Esses eram tempos de uma ignorância abençoada que encarecidamente me poupava aos abismos e à escuridão e me deixava assim livre de arrependimentos e de medos.
Nesta viagem temporal, que era desafio a tudo o que era conhecimento teorizado, percebi que o tempo era tão somente a distância que eu procurava encurtar para me deparar, uma outra vez, com o princípio de todas as coisas.
Aquele princípio definidor, antes ainda da minha própria implosão, em que tudo resistia imutável num adiamento à transformação que se sabia inevitável.
Esse será sempre o regresso ao centro do meu Universo.
Foi aí afinal o berço no qual fui forjado, no ferro ancestral da minha natureza e sob o fogo de um amor sublime que se recusou a deter nos enigmas da criação e em tudo o que esse ato tem de absurdo.
Consigo ainda percorrer de cor os becos e sítios de um mundo que já é só partilhado na lembrança dos meus, onde a luz brilha à força de archotes e fachos, em que tudo nasce e se desvanece na cadência do Mar e onde predomina sobretudo a cor verde Natureza.
Tudo o que havia para conhecer estava ali, nas terras primordiais de Machim, preservado entre dois ingremes rochedos e em que tudo era sentimento em grau superlativo, por entendimento e instinto.
Não me recordo de por lá haver pressa ou descontentamento, pelo menos não em mim.
E se os nossos périplos eram rotineiros, eles não eram nunca vazios.
Ali as amizades eram sempre verdadeiras, as gargalhadas eram ainda espontâneas e as palavras eram todas sentidas.
Ali nem a fé cedia nem a esperança abrandava.
Ali eu era afinal quem eu sempre quis ser.
Alves dos Santos escreve
à quinta-feira de 4 em 4 semanas
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