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Artigo de Opinião

Diretor

6/03/2021 08:05

A maior parte de nós não fazia ideia do que isso era. Alguns terão estudado fenómenos idênticos na História, outros tinham ideia do que significava a palavra. Muitos não sabiam nada de nada.

Passado um ano, parece que vivemos num grémio de virologistas, mesmo que rapidamente se perceba que a maioria de nós continua a não saber nada de nada. Curiosamente, os que mais sabem são aqueles que admitem pouco saber. O normal.

Em apenas 12 meses quase tudo mudou entre nós. Mudaram as rotinas, os costumes sociais, os comportamentos e as atitudes pessoais, o ensino, as relações laborais e até familiares. No fundo, alterou-se por completo o relacionamento humano. Interromperam-se os abraços, os beijos, os simples apertos de mão. Os toques mais próximos são feitos de punho fechado ou de asas abertas e cotovelo em riste. Os sorrisos, agora escondidos, são inexpressivos e apenas o olhar ganhou ainda mais valor.

Mas mesmo esse olhar parece basso. A sociedade, de uma forma geral, está entediada. Está cansada. Está mesmo farta de tantas regras que travam as liberdades, as amizades e a economia, que limitam expetativas, que destroem projetos, que derrubam sonhos. E andamos nisto há um ano!

Mas enquanto a sociedade vai ditando sentenças e diagnósticos a rodos sobre máscaras, confinamentos e vacinas, a vida continua. Diferente, muito diferente, mas continua. A sociedade é que vive distraída. Ou, pior do que isso, anda entretida.

Certamente também muito por nossa culpa, jornalistas, a agenda mediática transformou-se na agenda do vírus, dos casos positivos e recuperados, das vacinas. E todos descurámos outras matérias igualmente importantes.

Como muitos já se aperceberam, deixámos de falar de assuntos que eram prioritários até meados de março do ano passado. O subsídio de mobilidade ficou esquecido. O ferry lançou âncora ao fundo. O preço das viagens deixou de ser importante. As listas de espera por consultas ficaram na gaveta e até o novo hospital parece agora um tema perfeitamente secundário. Assim como o é a distribuição dos dinheiros públicos, as nomeações para cargos de duvidosa utilidade, as prestações de serviços desnecessários e tantas outras decisões que continuam a mexer com a nossa vida sem que as estejamos a ver com atenção. O Benfica e o Porto, o Marítimo e o Nacional também ajudam à festa e o Sporting é quase campeão! É também isso e o vírus que fazem a agenda do País e da Região.

Andamos nisto há um ano! Entretidos com o vírus, descuidámos o resto. Lamentamos o presente, suspiramos pelo passado e adiamos o futuro. Mesmo o futuro de amanhã.

Vem nessa linha a distração geral de vários agentes políticos e económicos que aparecem agora a correr para apanhar o autocarro dos fundos europeus. Tiveram seis meses para o fazer, mas só agora pensaram na famosa bazuca. À primeira vista, parece que alguns dirigentes de diferentes áreas passaram um ano em lay-off ou em teletrabalho com horário reduzido a escassas horas semanais. Só isso explica que cheguem tão tarde.

Quando passar o vírus - se o vírus passar! - já terão passado tantas oportunidades e já terão sido tomadas tantas decisões sobre a nossa vida coletiva por vários anos.

Pelo que se notou ao longo deste ano, há mais um efeito a juntar aos sintomas provocados pelo novo coronavírus: o bicho faz renascer uma sociedade acrítica, capaz de seguir qualquer populismo emergente. E isso vai ser notório já em setembro, com as eleições autárquicas.

Afinal, a resignação também tomou conta dos diretórios partidários, dos movimentos cívicos, das associações desportivas e empresariais. A resignação abafou a cidadania.

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