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Artigo de Opinião

Pois, meus amigos, somos poucos, mas merecemos respeito. O território do Norte não é um "enfeite" da ilha e tem um peso humano e natural bem maior do que o seu número de eleitores. Num tempo em que tudo se mede em proveitos imediatos (imediatíssimos, tantas vezes), pode ser um desafio investir numa vastidão com menos habitantes do que algumas das freguesias do Funchal, mas governar é isso, também: tomar decisões corajosas.

Custa muito olhar para a terra que nos viu nascer e perceber que, muitas vezes, o seu desenvolvimento está condicionado à manutenção de poderes. Caríssimos governantes: visitem-nos sem ser para ganhar votos - diretamente, em campanha, ou indiretamente, nas inaugurações - ouçam, informem-se, comovam-se. Por favor.

Por isso, deixo aqui o meu desafio: vamos fazer das autárquicas um tempo de debate de projetos políticos. A sério. Deixemos as bilhardices de saber quem é que concorre ao quê e quem é que ficou com raiva, por causa disso, e vamos olhar com atenção para o nosso futuro. Quanto mais não seja porque o pós-pandemia vai precisar de respostas novas.

Em concreto: sugiro que os candidatos de cada partido às três câmaras do Norte promovam conferências de imprensa conjuntas, com visões comuns sobre as necessidades desta metade da ilha. Conheçam todas as ruas do concelho a que concorrem, nem que seja de carro, vejam quanto tempo demora a chegar a uma paragem de autocarro, a um multibanco, ao centro de saúde, à igreja…

Vamos pensar em grande, num plano de reocupação, reconstrução, recuperação, com base em ideias diferenciadas: residências artísticas, valorização de práticas desportivas, agricultura biológica. Não basta um "parque temático", com todo o mérito que tem: é preciso permitir que as atividades tradicionais decorram no seu sítio, de forma visitável e sustentável. Até para que não morram. Valorizar localmente, levando o potencial do turismo para fora do circuito de interesses instalados que o dominam, desde o Funchal.

Para que fique claro: não temos nem queremos senhorios no Norte. Já passou o tempo. Não temos de manter um luto permanente por termos cortado o cordão umbilical com os grandes senhores desta terra nem temos de ser castigados eternamente por este atrevimento. Mas esta voz só se vai fazer ouvir se remarmos todos para o mesmo lado, evitando até divisões artificiais alimentadas por quem só deseja que fique tudo na mesma.

Despeço-me com uma citação do professor Alberto Vieira, com quem ainda temos muito a aprender: "Relevamos e sacralizamos a criação dos poios e das levadas. Mas falta ainda entender como tudo isto se articulou no terreno, quais os conhecimentos adquiridos e valorizados na agronomia, ecologia e biologia solidificada num conhecimento vivencial de eterna dedicação e veneração da terra, o elemento vital do modo de ser e estar no mundo do ilhéu".

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