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Artigo de Opinião

22/01/2021 08:09

Uma experiência levada a cabo em 2003 permitiu verificar esse comportamento em macacos. Os macacos-capuchinho preferem uvas a pepinos. Em isolamento, os macacos ficaram satisfeitos por receber tanto uvas como pepinos, mas vendo outro receber só uvas, ao receberem pepinos, a reação dos macacos foi de raiva.

Basta observar duas crianças a dividir algo para identificarmos esse comportamento. A preocupação maior é garantir que não são prejudicadas. À medida que crescem vão aprendendo a controlar a parte negativa desses impulsos, mas eles continuam lá, bem impregnados na massa genética que nos define enquanto espécie. Chama-se a esta ferramenta de defesa "aversão à iniquidade desvantajosa".

É da exploração mal-intencionada destes sentimentos que se alimentam os populistas da atual vaga nacionalista. Tudo o que resulte em centralização dos processos de decisão, criando grupos que se sentem excluídos, e em processos pouco claros, não isentos ou injustos, é lenha para esta fogueira que começa a arder também entre nós. Isto não começou agora, mas é justo reconhecer que está mais requintado.

Na campanha para as Eleições Presidenciais, que têm lugar este domingo, se o objetivo era travar radicais, muitos foram os erros cometidos.

Começo por uma entrevista inacreditável àquele que se tornou o centro destas eleições: André Ventura. O jornalista, tomado de uma raiva que parecia sair-lhe pelos olhos, deu a Ventura o melhor arranque de campanha que este poderia esperar: o argumento do "sistema em funcionamento", ao vivo e a cores, "a pretender calar quem não se dobra".

Daí para a frente foi sempre a descer (para Ventura, a subir). No debate com Marisa Matias a vitória foi clara, não tanto pela maior capacidade argumentativa de André Ventura, mas especialmente porque, a dada altura, a única coisa que se via da candidata era uma expressão de ódio incontrolável. Em moldes mais comedidos, o mesmo se passou noutros debates. A forma de combater o ódio não é mais ódio, não é desprezo nem tão-pouco paternalismo.

Para compor o ramalhete, um número significativo de comentadores foi tentando construir uma realidade paralela, atribuindo vitórias esmagadoras aos oponentes de Ventura.

Não lhe deem razão! Por favor, não lhe deem razão. Foi o que pensei enquanto assistia a cada um destes episódios. É disso mesmo que estes movimentos vivem.

Como se poderia prever, o tal número significativo de comentadores estava tão errado que a prova dos nove não tardou, com o crescimento continuado das intenções de voto em André Ventura. Estavam errados (pelo menos) por uma de duas razões: i) Ventura ganhou alguns debates, por demérito dos seus adversários, mas ganhou; ii) não se vence uma luta destas com desonestidade. Este fogo não se combate com fogo.

Finalmente, assisti ao debate com o atual Presidente da República e candidato Marcelo Rebelo de Sousa. Com a atitude inclusiva e democrática que lhe é reconhecida, pôs um travão no que parecia ser uma tendência de crescimento acentuado do populista Ventura (que entretanto parece ter-se entusiasmado e começou a cruzar linhas inaceitáveis até para os seus mais acérrimos apoiantes). Ficou aí claro, uma vez mais, que a declaração de que "Marcelo tem sido uma muralha contra o populismo em Portugal" é inteiramente justa. Mesmo que não se possa dizer o mesmo de quem a proferiu.

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