Deu para o torto. Só podia. Assim sendo, se tudo parecia tão óbvio - quase científico - porque é que nos permitimos a tamanho risco? Ficámos todos à espera que outros tomassem as rédeas e assumissem as opções que competiam a cada um.
Nas decisões que competiam aos governantes, assistimos a esta pérola: no Natal as medidas restritivas puderam ser menos severas, no final de ano endureceram. Ou seja, ficou logo assumido que primeiro podemos prevaricar, depois colocamos 'trancas à porta'. Primeiro 'borramos a pintura', depois tentamos fazer um desenho na tela já conspurcada.
Esta irresponsabilidade rapidamente se tornou coletiva. A falta de coragem política para impor medidas severas, antes de acontecer o que todos sabíamos que ia acontecer, foi fatal e não se coaduna com a perspicácia na gestão da pandemia noutras alturas.
Agora sobra a ‘coragem’ e muita determinação. Vamos ter de cumprir outro pacote de medidas restritivas, agora com algumas limitações que vão muito mais longe.
Analisando a esta distância, já depois de consumada a descontração coletiva que se revelou fatal, é óbvio que teria sido mais prudente - e sobretudo mais eficaz - ter adotado as medidas restritivas antes de termos permitido que as infeções se multiplicassem.
Há também a componente económica, que é de importância extrema. Mas também neste capítulo teria sido mais fácil carregar nas medidas restritivas, no período natalício, naquelas que dependessem das autoridades, nomeadamente nas restrições à circulação interconcelhos. O restante caberia às pessoas, individualmente, que deveriam ter prescindido de convívios familiares e afins.
Neste exercício de 'dar palpites no fim do jogo' há algo que não é assim tão difícil de acertar: aos comerciantes que continuam a ser encostados à parede com limitações aos horários de funcionamento, entre outras, convém criar condições para que possam sobreviver. Se não souberem como, basta falar com eles.