A Faixa Corta Fogo

Trata-se de um nome feliz para denominar um projeto estruturante para a cidade do Funchal. Penso que o nome não é desconhecido da maioria das pessoas. Mas afinal o que traz de novo esta “Faixa”.

Encontra-se referenciado, que um número significativo de incêndios que afetam a zona Este do concelho do Funchal, atravessam o Caminho dos Pretos. Assim sendo, este Caminho, pelo tipo de vegetação que o circunda, e pela sua orografia, proporciona uma zona de continuidade aos grandes incêndios. Identificada a questão, tornava-se premente elaborar um plano de intervenção que pudesse pôr cobro a este registo cíclico. Esse plano foi elaborado e prevê a intervenção numa faixa de terrenos florestais ao longo dos mais de 9 Km de extensão do Caminho dos Pretos, numa área superior a 640 hectares (tenha-se como referência 1 hectare 1 campo de futebol).

Essa intervenção preconiza uma alteração do tipo de floresta e de vegetação existente, substituindo os eucaliptos, acácias e o muito mato existente por outras espécies, quer indígenas, quer folhosas exóticas menos combustíveis, adaptadas ao local e que constituam uma barreira natural à propagação do fogo. É ainda objetivo criar vários estratos arbóreos e arbustivos diminuindo a chamada continuidade horizontal e vertical de vegetação que implicará uma alteração do comportamento e intensidade do fogo no local.

Coloca-se então a questão, sendo uma “Faixa Corta Fogo” não seria preferível deixar a zona isenta de vegetação como garantia de não arder. Essa hipótese não seria a melhor pois é importante que toda aquela área possua vegetação para controlo da erosão e diminuição do risco de deslizamentos de terras em caso de precipitação intensa.

Delineados todos os objetivo e forma de intervenção o Governo Regional (GR) partiu para a ação. Os proprietários dos terrenos que quiseram aderir ao projeto e intervir, tiveram o apoio do GR candidatando-se a apoios comunitários no âmbito do PRODERAM para requalificarem as suas propriedades. Quem não pode ou não quis intervir nos seus terrenos, o GR com um empenho louvável da Secretária Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas Prof. Susana Prada, tem conseguido a posse desses mesmos terrenos. Essa posse é efetivada através da doação de empresas após aquisição dos terrenos aos legítimos proprietários, numa atitude de responsabilidade social e num gesto ambiental elogiável das mesmas, fazendo com que este projeto tenha o envolvimento da sociedade e empresas, reduzindo o custo público do mesmo. Neste momento já se encontram intervencionados mais de 1/3 da área total e a “Faixa Corta Fogo” continua com a mesma dinâmica desde a sua criação. A semana passada foram doados ao GR mais 22 hectares de terrenos que integram esta faixa, para posterior intervenção e requalificação. Os primeiros terrenos adquiridos por empresas e doados ao GR já se encontram em intervenção de limpeza, seguindo os projetos e planos definidos para a área. Como segurança e garantia a todo o investimento já se iniciou a construção de um reservatório de água com capacidade de 1500 m3 e a colocação de uma conduta ao longo dos 9 Km do Caminho dos Pretos com instalação de 20 hidrantes.

Contudo o trabalho na área da floresta e da conservação da natureza, ao contrário de muitas outras áreas como é o caso da construção civil, nunca se encontra concluído, trabalhando-se sempre a longa escala temporal. Muitas das plantas hoje plantadas só atingem o seu estado adulto passadas 3, 4 ou mais décadas. Durante este período é necessário manter as plantas, efetuando regas, efetuando consecutivas limpezas de mato e de invasoras, efetuando limpezas dos caminhos e aceiros florestais construídos.

Este é um projeto do presente que dará os seus frutos no futuro. Mas é assim que sabemos trabalhar intervencionando no presente para garantir o futuro das gerações vindouras.