SummerCEmp 2019
Monsaraz foi, por estes dias, o epicentro do debate sobre a nossa Europa, com a realização da terceira edição da escola de verão sobre assuntos europeus – o Summer CEmp. Trata-se de uma iniciativa da Representação da Comissão Europeia que permitiu juntar 40 estudantes universitários com 70 oradores e mentores para “parar, escutar e olhar” a Europa, num formato informal, onde as conversas surgem de forma inesperada, ao ar livre, envoltos em paisagens e ambientes únicos e onde todos convivem e “respiram” Europa durante 4 dias.
Neste cenário atípico, os oradores (comissários europeus, jornalistas, professores, deputados, artistas, empresários, etc…) interagem com os estudantes sem recurso a qualquer tecnologia. À exceção dos microfones! Dar voz às ideias, ao pensamento livre, garantindo que o respeito pela diferença de opinião está sempre assegurado. Do outro lado, 40 estudantes particularmente interessados nos assuntos europeus (a iniciativa recebeu mais de 160 candidaturas) e com um nível de conhecimento e de participação cívica acima da média.
Gratificante, sem dúvida, verificar que “nem tudo está perdido” e que existem no mundo real, jovens que estão genuinamente preocupados com a Europa, que querem saber (ainda) mais sobre ela e que acima de tudo, estão atentos ao que se passa neste nosso território peculiar, porque sabem que parte do seu futuro passa também pelo sucesso do projeto europeu. Daí também as inquietudes, relativamente por exemplo, ao Brexit e às suas inevitáveis (e imprevisíveis) consequências, a ausências de conteúdos europeus em determinados planos curriculares escolares, ou a suposta falta de “identidade europeia”.
Das conversas (sempre concorridas e com muitas questões à mistura), fica uma certeza: o muito que já se alcançou na UE é importante, mas não é suficiente! E mais, comunicar (e comunicar bem!) continua a ser a palavra na ordem do dia, no que se refere à aproximação dos cidadãos ao projeto europeu e às suas instituições. Infelizmente, exemplos da má comunicação no que toca à utilização de fundos comunitários em projetos públicos e privados é uma realidade incontornável que tende a persistir e que não abona a favor da desejada aproximação dos cidadãos.
É preciso pois, entender os novos desafios que se colocam e dar-lhes respostas pragmáticas e objetivas, num mundo que é, por vezes, difícil de perceber e que sofre mudanças a toda a hora e a todo o instante. Como referiu o presidente do Eurogrupo na sessão inaugural do SummerCEmp, há que não cair na tentação de encontrar respostas simples para questões complexas, porque estas, necessitam de tempo! Necessitam que tenhamos alguma dose de paciência e de flexibilidade, sem descurar o princípio básico do respeito pela diversidade que nos une.
Diria que é legítima esta ambição em querer mais Europa, mas tal implica antes de tudo, conhecer e valorizar o que já temos. E isso significa não descurar na sociedade os que não percebem como funciona esta UE ou até aqueles que percebendo, não concordam com o seu rumo. A divergência de opinião é salutar! Mas a falta de conhecimento ou as deficientes perceções sobre a UE torna-se perigosa, numa altura em que o debate público tende a situar-se nos extremos, fazendo com que o populismo gratuito seja muitas das vezes a estratégia mais fácil para chegar aos cidadãos.
De resto, uma vénia à organização do evento que prima pela originalidade e pela excelência da sua planificação, onde todos os detalhes foram contemplados, assegurando aos participantes uma memória que perdurará no tempo, seguramente pelas melhores razões.