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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

1/08/2023 06:00

Chovia mas isso só ajudava a alegria. Em 2022, lançou o seu último álbum intitulado Pwanga (luz) - em que cada faixa tem por título unicamente uma palavra para «celebrar a essência das coisas». Como conta ao jornal PÚBLICO, a letra da canção Phowo foi escrita por agricultoras de uma aldeia isolada em Angola - tendo uma amiga viajado até lá com o intuito de as acompanhar a escrever poemas para aumentar a sua auto-estima. No final da estada, as mulheres pousaram para uma fotografia de despedida, mas - talvez para honrarem a solenidade do momento - estavam muito sérias. Por isso, a sua amiga perguntou ao tradutor o que poderia fazê-las sorrir, ao que este retorquiu «Pwanga ni puy?» (Luz ou escuridão?), que fez abrir o rosto de todas as mulheres ao responderem inequivocamente «Pwanga!». Interessante que, num recente artigo de Pedro Abrunhosa, tenham sido exactamente essas as palavras que utilizou para descrever a acção do Papa Francisco: «empenhado […] em levar luz aonde há demasiada escuridão».

A rádio - sempre a rádio - fez-me chegar, por intermédio do programa Destacável de Aurélio Gomes na Antena 1, o mais recente álbum - Azul - de Maria Luiza Jobim, filha de Tom Jobim. No Brasil, se se disser que tudo ficará azul significa que tudo ficará bem (continuamos na tensão luz - escuridão). O radialista recordou que a então criança Maria Luiza havia participado nas faixas Samba de Maria Luiza e Forever Green do último álbum - António Brasileiro - do seu pai. Na segunda faixa, que surge dois anos depois da Cimeira da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, escuta-se «Where is the green? / And where is the blue? / Where is the house / I’ve made for you?» (Onde está o verde? / E onde está o azul? / Onde está a casa / Que eu fiz p’ra ti?). Maria Luiza também convidou a sua filha a gravar com ela e com a Adriana Calcanhotto a faixa Papais, uma bonita homenagem aos respectivos pais.

Desde a última vez que aqui escrevi, celebrou-se a festa nacional francesa, o 14 de Julho. Azul é também a cor do bleuet, a centáurea, símbolo da esperança utilizado por algumas escolas militares por ser uma das primeiras flores que volta a nascer no campo de batalha. De repente, vê-se que alguns dos carros de combate que passam nos Campos Elísios levantam os paralelos: lembro-me do slogan celebrizado pelo Maio de 68 - «sous les pavés, la plage» (por debaixo dos paralelos, a praia) - em que mesmo um regime duro como pedra não esmaga o sonho da praia. Temia-se o resultado das eleições de 23 de Julho, em Espanha, porque alguns queriam voltar a pavimentar a praia. Por enquanto, salvou-se a praia, mas temos o dever de a proteger com muita dedicação e genica, como a dos soldados republicanos espanhóis que foram os primeiros a entrar em Paris para a libertar do jugo alemão.

A Telma Encarnação seguiu as pisadas do pai Alfredo, primeiro no alcatrão das Malvinas (Câmara de Lobos), depois com a equipa Xavelhas e no relvado do Marítimo até, numa ilha longínqua, marcar o primeiro golo de Portugal num Mundial de Futebol Feminino. Nesta terça-feira, espero que o pai - depois de ouvir o relato do jogo contra os EUA -, ao largo da Madeira e logo que tenha rede, possa telefonar à filha felicitando-a pela vitória. Que esta rapariga «do chão nos pés» saiba que «[a] carta de fogo é a ponta de lança da poesia», como declama em cânone Letícia Fialho.

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