Eu ainda sou do tempo em que se conseguia agendar 22 dias (úteis) consecutivos de férias, totalmente desligado do mundo do trabalho. A inexistência de telemóveis permitiu-me esse luxo que as novas gerações dificilmente conhecerão. É certo que continua a estar na nossa mão o poder de desligar o bicho e ficarmos “isolados” à medida das nossas necessidades. Mas a mão é controlada pelo cérebro e esse há muito que se encontra dopado nesta necessidade de conexão permanente ao mundo digital.
E se em finais de 90´s, a coisa já estava difícil com os stupid phones da época, hoje tudo se complica com novas gerações de equipamentos mais inteligentes e interativos, potenciados pela sedução constante das redes ditas sociais, onde a entrada é grátis e apelativa, mas encontrar a saída pode ser um problema.
Claro que o uso que damos às ditas redes será aquele que nós quisermos: para chats, para divulgar ou consultar informações, para partilhar ou cuscar a vida alheia, para motivar ou conspirar, entre tantas outras possibilidades. Em teoria, podem até servir para aceder a notícias relevantes, mas também isso não é certo. Deixo alguns exemplos à consideração!
No início da semana, dei por mim a ler uma peça sui generis sobre um alegado atropelamento causado por um ciclista em “excesso de velocidade”. Um excelente exemplo do que NÃO deve ser o trabalho jornalístico, com uma notícia tendenciosa, cabalmente assente em juízos de valor. Algo tão bem escrito teve logo o merecido prémio: visualizações em abundância e um bom punhado de interações. Destas, contam-se pelos dedos aquelas que demonstraram um raro sentido cívico. Pelo contrário, e certamente para gáudio do autor da notícia, a troca de insultos e de manifestações de condenação foram um sucesso. E claro, automaticamente surgiram as habituais generalizações, colocando todos no mesmo saco: ficou claro que os ciclistas são um risco para a sociedade que só será resolvido quando estes pagarem seguro e IUC, usarem uma chapa de matrícula e apenas circularem na via pública entre as 00h00 e as 06h00.
Ainda nas redes, fiquei também a saber que, após longos meses de festividades, excentricidades e outras veleidades, Anant Ambani, finalmente deu o nó. Não é fácil organizar uma festa quando somos filhos do 9º homem mais rico do mundo. Afinal os Ambani são apenas aquela família que, se quisesse, poderia organizar um jantar, não para todos os indianos, não para todos os asiáticos, mas para TODOS os habitantes do planeta! A pequena fortuna não permitiria oferecer caviar, mas um big mac e uma cola estavam garantidos aos 8 mil milhões de criaturas deste velho planeta. Como dizia o outro “é só fazer as contas”.
Também percebi que a cimeira da NATO foi um fiasco e que teve o seu momento alto quando Biden trocou o nome de Zelensky. Também trocou o nome da sua Vice e usou um papelinho com apontamentos quando falava com Zelensky. Gravíssimo! Mas isso são águas passadas, pois agora os norte-americanos dividem-se entre rocambolescas teorias da conspiração sobre o atentado de Trump. Não tenhamos dúvidas: o raspanete na orelha, explorado ao melhor estilo Hollywood, possivelmente vai valer-lhe o Óscar de melhor ator, perdão, candidato e, consequentemente, a sua reeleição.
E com tudo isto esqueci-me de falar sobre a Europa. Não faz mal. Fica um artigo ao estilo atual: 80 % de banalidades e 20% de conteúdo porventura útil. Serei breve: Metsola foi reeleita Presidente do PE (para os próximos 30 meses), os novos deputados fizeram a sua estreia (com a Madeira a assegurar um representante a quem desejo as maiores felicidades, pois bem precisamos de uma voz na Europa que continue a alertar para as especificidades e fragilidades decorrentes da nossa ultraperiferia) e Von der Leyen precisa de 361 votos para ser reconduzida como Presidente da Comissão, pese embora, o PPE, o SD e o Renew Europeu, por si só, representem 400 votos (em teoria). Para acabar, uma nota final para dizer que Orbán não desilude: a Presidência (rotativa) do Conselho Europeu ainda agora começou e já se pede a passagem à presidência seguinte! Posso estar enganado, mas serão seis meses penosos e um teste à resiliência da UE.
Boas férias, sejam felizes e evitem o fast food noticioso.