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Artigo de Opinião

Gestor do Europe Direct Madeira

4/01/2024 08:00

Há qualquer coisa de mágico no arranque de um Ano Novo. Fazem-se balanços ao ciclo que termina, sobretudo quando este se revela generoso (o que até não foi o caso...) e projeta-se esperança no ano que se segue, acompanhada de uma crença de que tudo será melhor. É o momento das conhecidas “resoluções de Ano Novo” que, em boa verdade, muitas vezes não passam de sonhos e desejos que não encontram na prática qualquer concretização, pelo simples facto de não haver sequer um plano que os acompanhe. Independentemente da falta de estratégia, não deixa de ser positivo este optimismo reinante em torno do Ano Novo que, para bem ou para mal, carrega consigo a herança do passado, logo, começar tudo de novo e deixar os problemas para trás não é sequer uma possibilidade.

Dito isto, o ano que agora se inicia não foge à regra e começa fortemente condicionado pela conjuntura internacional, à qual a União Europeia (UE) não tem como escapar. Por um lado, o conflito Israel-Palestina (já nem refiro o Hamas, pois verdadeiramente a investida israelita há muito que perdeu o seu foco inicial, criando uma crise humanitária vergonhosa e inqualificável, com milhares de mortos à mistura e quase 2 milhões de refugiados), para o qual a UE tem procurado minimizar o sofrimento humano, assumindo-se como o maior doador internacional de ajuda aos palestinianos. Por outro, a guerra Rússia-Ucrânia que se aproxima já do seu segundo ano, sem que se perspetivem soluções a curto prazo. Aliás, o efeito “Zelensky” parece perder alguma força e isso é notório, por exemplo, nas análises dos especialistas que timidamente lá vão reconhecendo as limitações das ações militares ucranianas no terreno e que a solução política à mesa das negociações deverá ser, cada vez mais, uma possibilidade a ponderar seriamente. Afinal, até onde irá esta capacidade da UE de derramar muitos milhões de euros na atual estratégia? Recorde-se que, em 2023, foram 1,5 mil milhões mensais e para 24-27, estão cativos 50 mil milhões à espera da concordância dos 27 Estados-membros (depois do chumbo de Orbán, no “famoso” Conselho Europeu de dezembro passado).

À margem destes dois cenários trágicos sobre os quais o Papa Francisco deixou, por estes dias, um sentido apelo aos intervenientes nas guerras para que “escutem a voz da consciência” (se é que ainda a têm), o foco deve estar nos desafios internos que se colocam ao projeto europeu, com eleições em diferentes Estados-membros, nomeadamente Áustria, Portugal e Bélgica, sem esquecer o momento-chave das europeias marcadas para Junho. Os receios (legítimos) do crescimento dos partidos radicais, eurocéticos e de extrema-direita ganham expressão. Basta ver o que aconteceu em Itália ou, mais recentemente, nos Países Baixos.

Não há como contornar o problema: algo terá de mudar na forma de fazer política! Se hoje vivemos melhor que há décadas atrás, porque razão os políticos “moderados” não conseguem uma maior mobilização do eleitorado? Se calhar, digo eu, o discurso redondo (vago), apaziguador e “politicamente correto” já deu o que tinha a dar. O povo quer gente que ponha o dedo na ferida, que se expresse numa linguagem que se perceba e que resolva os problemas correntes do dia-a-dia. Neste contexto difícil de insatisfação generalizada (ainda que, nalguns casos, sem qualquer fundamento), aos futuros candidatos às europeias espera-lhes um desafio sem precedentes na mobilização dos cidadãos, em particular, os portugueses, claramente agastados com a necessidade de mais uma votação imprevista (legislativas de março), assente num “cardápio” que deixa algo a desejar. Por falar nisso, seria tão bom que a nossa região mantivesse dois representantes no Parlamento Europeu! E também seria igualmente bom que os principais partidos dessem a conhecer as suas escolhas, até porque, pelo menos por cá, já sabemos quem não é candidato(a) mas ainda desconhecemos os rostos de quem vai a jogo.

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