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"A morte da minha filha foi uma violência. Morri por dentro, bebi demais"

JM-Madeira

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Data de publicação
17 Maio 2021
23:10

Tony Carreira deu a primeira entrevista onde fala sobre a morte da filha, Sara.

Cinco meses após a morte da filha mais nova, Sara Carreira, que perdeu a vida num trágico acidente de viação, aos 21 anos, Tony Carreira deu a primeira entrevista onde falou sobre a dor que, desde dezembro, vive no seu coração. O cantor esteve à conversa com Manuel Luís Goucha, tendo sido a mesma transmitida esta segunda-feira, dia 17, depois do 'Jornal das 8'.

Deixa-me começar por dizer, querido Tony, obrigada", foi desta forma que Goucha deu início à entrevista.

O cantor retribuiu o agradecimento e realçou a importância que o apresentador teve no seu processo de luto: "Se alguém realmente me apoiou muito neste deserto foste tu, outras pessoas também, claro, mas tu foste muito especial nisto", começou por referir.

Seguiram-se as pesadas palavras, nas quais Tony Carreira admite não encontrar agora sentido para que a sua vida continue.

"Estou a tentar encontrar um sentido, mas é muito complicado responder a essa pergunta. É evidente que tenho mais dois filhos, e eles percebem quando o meu discurso é tão apático quanto este. Eles percebem que é a dor que está a falar, porque é claro que a vida tem de ter sentido, tenho mais dois rapazes e tenho de me agarrar a eles...", diz, referindo aos filhos David e Mickael.

"Eu já não conto, porque já deixei de pensar em mim, no fundo, mas espero através da associação da minha filha encontrar sentido. Espero encontrar sentido através dos meus filhos, estou à espera de respostas, estou à espera de tentar perceber o porquê da vida ser tão injusta", confessa, sem medo de assumir o quanto sofreu e ainda está a sofrer.

"Quando a minha filha partiu foi... uma violência extrema. Morri por dentro, ainda estou a tentar encontrar alguma vida cá dentro. Não tenho problema em dizer que bebi mais do que devia, andei ali uns tempos... parecia um zombie", admite.

"Depois veio alguma violência, fui injusto com pessoas que amo muito, fui agressivo com o mundo inteiro. Revoltei-me contra o mundo inteiro... neste momento estou à procura de, através de alguma fé, a fé que me resta, encontrar algumas respostas", realça.

Hoje, Tony garante que se tenta agarrar "à vida depois da morte". Na esperança de voltar a reencontrar-se com a filha, o músico quer tornar-se uma pessoa ainda melhor.

Tony sofre com a dor, as saudades e a falta que a filha lhe faz. "Há duas certezas que eu tenho, uma delas é que nunca mais volto a ver a minha filha e a outra certeza é que nunca mais serei o mesmo", lamenta.

"A única coisa que pode realmente ajudar-me é agarrar-me à associação da minha filha - Associação Sara Carreira -, fazer o bem e acreditar que o caminho que me resta cá não será assim tão longo", diz, admitindo que gostava de morrer cedo.

"Se chegar aos 100 anos será um grande castigo", atira, garantindo contudo que "jamais" seria capaz de terminar com a própria vida.

"A Sara era luz, era alegria, era a minha princesa, era a mulher da minha vida como eu disse muitas vezes", conta Tony, que todos os dias vai ao cemitério conversar com a filha.

E foi precisamente no momento em que Tony Carreira disse todos os dias fazer perguntas à filha no cemitério, na esperança de um dia ter as respostas que acalmem o seu coração, que o músico e o apresentador se comoveram e deixaram as lágrimas correr.

A morte de Sara uniu ainda mais Tony Carreira e a ex-mulher, Fernanda Antunes

"Já eramos muito unidos, sempre fomos. Ainda hoje somos uma família, eternamente uma família", garante. "É muito importante para nós estarmos juntos, é vital estarmos juntos", reitera, dando conta de que será amigo da ex-mulher até à morte.

Ainda que esteja próxima de Fernanda, Tony assegura que são mentira as notícias que dão conta de que teria terminado a sua relação com a namorada.

"Não há dor pior do que perder um filho", realça, voltando a apelar para que a imprensa respeite a sua dor.

O estúdio onde canta as suas canções é o único sítio onde se sente em paz. "Só consigo escrever canções para a minha filha", conta, explicando que está agora a gravar um álbum com canções dedicadas à sua menina.

Sobre o trágico acidente na A1 que ditou a morte de Sara Carreira, Tony lamenta ainda não ter ainda conseguido obter respostas por parte do Ministério Público. O cantor considera mesmo "desumano" não ter nenhuma conclusão após cinco meses. "Acho no limite desumano tanto tempo".

A relação com Ivo Lucas

"A minha relação com o Ivo é uma relação muito bonita, tal como com toda a minha família, e continua a sê-lo. Eu não sou amigo do Ivo, mas isso eu vi, o Ivo sempre tratou muito bem a minha filha. Teve a fatalidade de ir ao volante daquele carro, mas podia ter sido eu a ir ao volante", garante Tony Carreira, que diz aguardar pelas respostas do inquérito sobre o acidente para saber o que realmente aconteceu.

"Já disse isto ao Ivo, 'eu não te vou condenar, não te vou julgar, nem eu nem a Fernanda nem nenhum dos miúdos, ninguém'", assegura.

"Não há semana que não estejamos com ele, se não estivermos com ele estamos ao telefone. Se ele não fez nada de mal, não sei, sei que sempre tratou muito bem a minha filha e a minha filha amava-o", reforça, revelando assim que o ator, que conduzia o carro onde Sara Carreira seguia no momento do acidente, continua próximo de toda a família Carreira.

"Foi o único namorado que ela teve nestes anos todos que eu senti realmente que aquilo era amor", diz ainda.

Tony Carreira vai regressar em força aos palcos

"Já pedi ao meu agente para me marcar o máximo de espetáculos possível", conta o músico, que quer agora cantar pelo mundo inteiro para "não ter tempo de pensar".

"Tento o dia todo andar ocupado, mas depois lá vem a noite e a noite é terrível… mas pior ainda é o acordar. O acordar é acordar na minha casa e acordar sem saber onde estou, que dia é… é um vazio total", lamenta num testemunho emotivo onde confessa "adormecer agarrado a uma almofada a chorar" num "vazio total".

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