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Escola orienta crianças e jovens a cantar fado como gente grande

JM-Madeira

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Data de publicação
13 Novembro 2022
9:17

Inês Coito tem 17 anos, começou a cantar por brincadeira "quando era pequena", hoje cala a assistência quando fecha os olhos e projeta a voz no fado "Perseguição", e vem à Escola do Fado por se sentir feliz e realizada.

A jovem fadista argumenta que quando canta "não existe mais nada", quer "transmitir aos outros felicidade" ao mostrar o que consegue fazer com a voz, mesmo "quando os fados são tristes". Porém, sempre com o objetivo de "chegar mais longe", reconhece ter à sua frente "uma batalha e uma luta" muito grandes.

Os jovens intérpretes têm aulas na Escola do Fado da Associação Cultural o Fado (ACOF), em Chelas, Lisboa, uma escola decorada em ambiente de bairro, entre xailes, pinturas da cidade, fotografias de fadistas e guitarras nas paredes, onde têm a "oportunidade de aprender errando" sem qualquer censura, argumenta o professor da escola, Carlos Fonseca.

"Classificado como suposto" professor, como se define, meio a brincar, Carlos Fonseca, dá indicações aos fadistas, entre uma expressão no olhar e o dedilhar de notas nas cordas da guitarra, que os jovens percebem com um acenar de cabeça sempre com o objetivo de melhorar a colocação da voz, de encontrar o melhor momento para uma pausa que lhes permita respirar, ou mesmo para alterar a velocidade com que fraseiam.

Carlos explica que tudo se resume aos fados estróficos, quadras, quintilhas, sextilhas, decassílabos e versículos, padrões de poemas que são os constituintes do fado e os transmite aos jovens alunos da escola. E reforça que foi através do fado que os jovens perceberam que a língua conseguiu o "melhor compromisso com a música".

A fadista mais nova da escola tem 11 anos. Maria Inês começou a cantar fado por influência da mãe e da tia, diz que "tem aprendido muita coisa", nas aulas, e fica "aliviada quando canta", apesar de o professor "às vezes ser muito chato", porque diz que "aquilo não está certo".

Maria Inês fica mais à vontade a cantar, e detesta falar. O fado de que mais gosta é "Maria", porque foi o primeiro que aprendeu.

A aluna Juliana Santos sente "carinho e amor" quando canta. É o "maior dos refúgios", argumenta a jovem que faz o caminho de Setúbal para Chelas todas as terças-feiras à noite, porque nas aulas deixa de pensar nos problemas, devido aos sentimentos que o fado transmite.

A diretora da Escola, Isabel Mata, em declarações à agência Lusa, argumenta que o Fado não se ensina, "está dentro" de cada um: "A escola serve para auxiliar a dicção e aperfeiçoar a maneira de estar" dos jovens, sempre com referência nos antigos fadistas como Fernando Maurício ou Amália.

Isabel Mata aponta com orgulho o mais recente aluno, André Sousa, e também o mais velho em idade, 26 anos, que conquistou o primeiro prémio no concurso de fado amador de Odivelas, apesar de apenas ter começado a cantar com guitarra vai para dois meses.

André começou a ouvir fado por "conta dos pais e da família". Sempre ouviram fado em casa, mas desde miúdo cantava karaoke entre amigos e agora sentiu o "chamamento", que veio em setembro.

O aluno tem a oportunidade de "cantar acompanhado à guitarra" para ter "uma nota constante" durante os fados, e em três semanas de aulas conseguiu o primeiro lugar com o "Fado Malhoa".

O jovem fadista abraça o Fado porque é tradição, é a "cultura do país" e defende ser importante preservar a língua.

Por esta escola, que celebra 23 anos em dezembro, passaram fadistas como Ana Moura, Raquel Tavares, Teresinha Landeiro, entre "tantos nomes grandes do Fado", precisa à Lusa o presidente da ACOF, Adriano Santos, sem demonstrar preferência por qualquer artista.

A ACOF disponibiliza aulas de fado com violas e guitarras, às terças-feiras, das 20:30 às 23:00, e apresenta os alunos - ou quem quiser cantar - todos os sábados à noite, no restaurante da associação.

Lusa

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