O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, manifestou hoje preocupação pelas recentes tensões junto às instalações de Zaporijia, a principal central nuclear da Ucrânia, pedindo um "momento de cautela e contenção" e a criação de uma zona desmilitarizada.
"Quero expressar as nossas preocupações sobre o desafio repetido na central nuclear de Zaporijia. As ações da Rússia são arriscadas e este é um momento para cautela e contenção", declarou Charles Michel, durante a segunda cimeira da "Plataforma da Crimeia", um fórum de diálogo diplomático lançado pela Ucrânia para coordenação da resposta internacional à ocupação da região pela Rússia em 2014.
No evento realizado por videoconferência, que reuniu hoje líderes mundiais e de organizações internacionais, o responsável europeu disse "apoiar plenamente os esforços feitos pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e pela ONU" nesta matéria específica.
"A Rússia deve dar imediatamente acesso aos peritos e também apoiar o estabelecimento de uma zona desmilitarizada em torno da central nuclear", vincou o presidente do Conselho Europeu, depois de as autoridades ucranianas terem acusado nos últimos dias as forças russas de novos bombardeamentos perto das instalações de Zaporijia (sul da Ucrânia), o maior complexo de energia nuclear da Europa.
Já sobre a anexação da península ucraniana da Crimeia, Charles Michel sublinhou que "a União Europeia (UE) não reconhece e não reconhecerá esta ação ilegal" e condenou que a Rússia tenha vindo a utilizar este território "como trampolim estratégico para invadir outras partes da Ucrânia".
"A Crimeia é a Ucrânia e podem continuar a contar connosco", adiantou.
Esta plataforma foi apresentada inicialmente em 23 de setembro de 2020 pelo Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, durante a sua intervenção na Assembleia-Geral da ONU.
Quase dois anos depois, a "Plataforma da Crimeia" ganha uma maior relevância, uma vez que todo o país é atualmente alvo de uma nova ofensiva militar russa, iniciada em 24 de fevereiro deste ano.
A cimeira acontece na véspera do dia em que se cumprem seis meses de conflito no território ucraniano, que coincide com o Dia da Independência da Ucrânia.
Lançada há praticamente meio ano - data que se assinala na quarta-feira -, a ofensiva militar russa na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
LUSA