A Rússia e os Estados Unidos anunciaram hoje que os respetivos chefes do Estado-Maior das Forças Armadas falaram por telefone a 27 de novembro, um facto inédito num contexto de escalada das tensões russo-ocidentais em torno da Ucrânia.

“No dia 27 de novembro, por iniciativa da parte russa, decorreu uma conversa telefónica” entre Valery Guerassimov e Charles Brown, indicou o Ministério da Defesa russo em comunicado.

“Foi a primeira vez que os dois dirigentes comunicaram desde que o general Brown se tornou chefe do Estado-Maior”, em outubro de 2023, confirmou um porta-voz do Estado-Maior Conjunto norte-americano, também em comunicado.

Segundo este porta-voz, os dois responsáveis militares “debateram uma série de questões relacionadas com a segurança global e regional, entre as quais o conflito em curso na Ucrânia”.

O telefonema não foi tornado público até agora “a pedido do general Guerassimov”, acrescentou.

Por seu lado, o Ministério da Defesa russo indicou que “durante essa conversa, a parte norte-americana foi informada de que o Exército russo está a realizar exercícios [militares] no Mediterrâneo Oriental”, segundo o comunicado.

Moscovo tinha afirmado publicamente na terça-feira ter realizado manobras envolvendo mais de mil soldados e o disparo de mísseis, incluindo mísseis hipersónicos Zirkon, no Mediterrâneo oriental, sem contudo especificar quando tinham ocorrido.

Este anúncio surge numa altura em que se registou um reacendimento da guerra civil na Síria e o regime do Presidente Bashar al-Assad, aliado da Rússia, está a perder terreno para uma coligação de rebeldes liderada por islamitas radicais.

De acordo com a comunicação social norte-americana, que cita um porta-voz do general Charles Brown, os dois chefes do Estado-Maior discutiram também o disparo pelo Exército russo, a 21 de novembro, contra uma unidade de produção militar ucraniana, de um míssil balístico apresentado como hipersónico e experimental, capaz de transportar uma ogiva nuclear.

O Presidente russo, Vladimir Putin, classificou esse ataque como uma retaliação aos ataques efetuados pela Ucrânia em território russo, utilizando mísseis de longo alcance norte-americanos e britânicos, e ameaçou atacar os países ocidentais que fornecem armamento à Ucrânia.

Segundo a estação televisiva norte-americana CNN, Valery Guerassimov e Charles Brown discutiram também o envio de milhares de soldados norte-coreanos para apoiar as forças russas contra o Exército ucraniano, num contexto de aproximação entre Moscovo e Pyongyang que está a causar grande preocupação em Washington e na sua aliada Coreia do Sul.

Esta primeira conversa telefónica ocorreu a menos de dois meses do regresso do ex-presidente e Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, à Casa Branca, onde afirmou que resolverá o conflito na Ucrânia “em 24 horas”, sem nunca explicar como.