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Partidos libaneses compraram votos com produtos básicos segundo relatório da UE

JM-Madeira

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Data de publicação
17 Maio 2022
17:49

Os candidatos às eleições legislativas de domingo no Líbano recorreram a compra de votos e outras práticas clientelistas, muitas vezes distribuindo bens de primeira necessidade, segundo o relatório preliminar da missão de observação da União Europeia (UE).

"A distribuição de ‘sacos de pão’ e material médico, bem como de geradores, painéis solares e combustível estiveram entre as táticas utilizadas por alguns partidos políticos e candidatos, muitas vezes nas suas instalações, para influenciar indevidamente os eleitores", lê-se no documento hoje divulgado pela missão europeia.

As eleições decorreram no contexto da grave crise económica iniciada no país em finais de 2019, que empurrou quase 80% da população para abaixo do limiar da pobreza e deixou as famílias quase sem fornecimento elétrico estatal, obrigando-as a depender de alternativas dispendiosas.

De acordo com as conclusões preliminares dos observadores comunitários, a compra de votos e clientelismo "generalizados" afetaram "gravemente" as decisões dos eleitores e "distorceram" a igualdade de condições entre os participantes na corrida eleitoral.

Além disso, durante a campanha registaram-se vários casos de "intimidação e obstrução", bem como de manipulação da informação na esfera digital.

Quanto à jornada eleitoral realizada há dois dias no território libanês, o chefe dos observadores da UE, György Hölvényi, indicou que decorreu "maioritariamente" de forma tranquila, apesar de uma série de incidentes reportados a nível local.

"Muitas vezes, o pessoal eleitoral, insuficientemente treinado, não foi capaz de evitar o comportamento intrometido dos monitores dos partidos, e o voto secreto não foi sempre garantido", explicou Hölvényi na apresentação do relatório em Beirute.

No dia da votação, a missão da UE tinha quase 170 observadores no país para reforçar o trabalho de outras equipas que tinham chegado ao Líbano em finais de março, altura em que começou a trabalhar a equipa central de dez analistas sediada em Beirute. Os observadores emitirão o seu relatório final nas próximas semanas.

Quase quatro milhões de pessoas foram chamadas às urnas para eleger um novo parlamento, que se encarregará de nomear, até ao final do ano, o próximo Presidente da República e também de aprovar o Governo que deverá em breve tomar as rédeas do país em queda livre.

O poderoso movimento Hezbollah e seus aliados perderam a maioria no parlamento libanês, segundo os resultados definitivos hoje divulgados das legislativas que registaram um avanço da oposição tradicional e de candidatos procedentes do movimento de contestação popular de 2019.

O movimento xiita pró-iraniano e os seus aliados políticos, que tinham o apoio de cerca de 70 dos 128 deputados no parlamento cessante, recuaram em relação à oposição e aos independentes, não tendo conquistado os 65 assentos parlamentares necessários para manter a maioria após o ato eleitoral de domingo.

O escrutínio realizou-se num país assolado pela pior crise socioeconómica da sua história, imputada por uma grande parte da população, organizações internacionais e vários países estrangeiros à corrupção e à inércia da classe dirigente, inalterada há décadas.

Nenhuma medida de relançamento económico foi tomada pelos governantes, acusados de deixar afundar o país.

Nesse contexto, os candidatos independentes, surgidos do movimento de contestação desencadeado em outubro de 2019 e que durou alguns meses, levando centenas de milhares de libaneses a sair à rua para exigir o afastamento de uma classe política incompetente e corrupta, obtiveram bons resultados, com pelo menos 13 candidatos eleitos para mandatos parlamentares.

Tal resultado implica que poderão alinhar-se com a oposição aos partidos tradicionais e assumir um papel preponderante para a formação do novo Governo.

O Hezbollah e o seu aliado xiita Amal conservaram todos os seus mandatos, um total de 27, mas, num feito inédito, dois candidatos independentes conseguiram conquistar, no sul do Líbano, um mandato que era há três décadas ocupado pelos aliados do Hezbollah.

As Forças Libanesas, partido cristão que faz parte da classe política quase inalterada dos últimos 30 anos e que se opõe fortemente ao Hezbollah, anunciou que obteve pelo menos 18 lugares, contra os 15 conquistados em 2018.

LUSA

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