Os bombardeamentos do exército birmanês contra opositores que assistiam a uma cerimónia mataram até 100 pessoas, num novo balanço citado por testemunhas e organizações locais.
O ataque ocorreu durante a inauguração de um gabinete administrativo ligado ao Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), que se proclama como a autoridade legítima do país após o golpe de Estado de 2021.
Uma multidão estava concentrada no local na aldeia de Pazigyi, no município de Kanbalu, na região de Sagaing, quando ocorreram os bombardeamentos, disse uma testemunha à agência norte-americana AP.
A região, um dos bastiões de resistência à Junta Militar no poder, situa-se a cerca de 110 quilómetros a norte de Mandalay, a segunda maior cidade de Myanmar (antiga Birmânia).
Uma testemunha disse à AP que um avião de combate lançou bombas diretamente contra a multidão.
Cerca de meia hora depois, um helicóptero apareceu e disparou contra o local, disse a testemunha, que pediu para não ser identificada por razões de segurança.
"Eu estava a pouca distância da multidão quando um amigo meu me contactou ao telefone sobre a aproximação de um avião de combate", disse a testemunha, contando que se escondeu numa vala.
A testemunha disse ter visto "pessoas cortadas em pedaços" e que o edifício de escritórios foi destruído pelo fogo.
"Enquanto os feridos eram transportados, chegou um helicóptero e matou mais pessoas. Estamos agora a cremar os corpos rapidamente", acrescentou.
As informações iniciais colocaram o número de mortos em cerca de 50, mas os relatos posteriores, divulgados por meios de comunicação social independentes, elevaram-no para cerca de 100.
Foi impossível confirmar independentemente os detalhes do incidente, porque as reportagens são sujeitas a restrições por parte da Junta Militar.
Não houve relatos imediatos sobre o ataque nos meios de comunicação social controlados pelo Estado.
Em casos anteriores, o governo militar afirmou que não utiliza força desproporcionada.
Os militares estão a utilizar cada vez mais ataques aéreos para combater a luta armada generalizada contra a sua autoridade, que começou quando tomou o poder do governo eleito de Aung San Suu Kyi.
Caso se confirme a informação do NUG, o ataque pode ser um dos mais violentos dos militares desde o golpe de 01 de fevereiro de 2021.
Recentemente, a Junta Militar aumentou as ações contra os vários grupos de resistência.
O relator das Nações Unidas para Myanmar, Thomas Andrews, disse, em março, que mais de três mil civis foram assassinados e que 1,3 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar os locais de residência.
Segundo a ONU, a Junta Militar mantém 16 mil presos políticos.
LUSA