Várias dezenas de milhares de israelitas manifestaram-se hoje contra a reforma judicial do Governo de Benjamim Netanyahu em mais um dia de protestos marcados por confrontos com a polícia e em que se aguarda um discurso do primeiro-ministro.
Num contexto tenso, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, que tem pedido à coligação governamental de extrema-direita para interromper o processo legislativo de forma a proporcionar negociações sobre a reforma com a oposição, anunciou que irá falar ao país hoje à noite.
O discurso está previsto para as 19:00 locais (17:00 em Lisboa), segundo a imprensa israelita, que adiantou que a intervenção será seguida, uma hora depois, por uma "declaração importante" do primeiro-ministro Netanyahu.
Em Telavive, cerca de uma dúzia de manifestantes foram presos por perturbar a ordem pública, segundo a polícia, que usou canhões de água para dispersar a multidão que bloqueara o anel viário da cidade.
"A Ayalon [a principal via urbana da metrópole de Televive] nunca esteve tão bloqueada. [Os manifestantes] conseguiram bloqueá-la nos dois sentidos, várias vezes, por períodos muito mais longos do que anteriormente", congratulou-se Nadav Golander, um manifestante de 37 anos ligado ao ramo da publicidade em Israel.
"Se a votação da [composição da comissão responsável pela] nomeação de juízes passar na próxima semana [no Parlamento], é o início da ditadura", acrescentou Golander, em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP).
O texto, um dos elementos centrais da reforma judicial desejada pelo Governo, que visa fortalecer o poder dos políticos na nomeação de juízes, já foi aprovado numa primeira leitura no Parlamento.
Vários milhares de pessoas também se reuniram em Jerusalém defronte da residência do primeiro-ministro de Israel, segundo a imprensa israelita.
A polícia, contudo, nunca avança estimativas dos números de manifestantes.
Outras ações de protesto, embora com menor impacto, decorreram em Haifa (norte) e em Beer Sheva (sul).
O dia de hoje foi batizado como o de "paralisia nacional" pelos organizadores das manifestações, que se sucedem todas as semanas desde que o ministro da Justiça israelita, Yariv Levin, apresentou um projeto de reforma que está a dividir o país.
A reforma visa aumentar o poder dos eleitos sobre os magistrados, o que, segundo a oposição, põe em risco o caráter democrático do Estado de Israel.
Netanyahu e os seus aliados da extrema-direita e ultraortodoxos acreditam que a reforma é necessária para restaurar um equilíbrio de poder entre as autoridades eleitas e o Supremo Tribunal de Justiça, que consideram estar politizado.
Hoje de manhã, o Parlamento israelita aprovou uma lei que protege Netanyahu da possibilidade de ser recusado ou declarado inapto para exercer o cargo enquanto estiver a ser julgado por várias acusações de corrupção.
A lei foi aprovada após uma longa sessão plenária, com 61 votos a favor e 47 contra e depois de acaloradas discussões.
Esta reforma desencadeou um protesto social generalizado, com manifestações em todo o país há quase três meses, e é vista como uma ameaça à democracia, uma vez que reduz a independência do poder judicial e os poderes de supervisão do Supremo Tribunal.
A oposição levantou numerosas objeções à legislação que é descrita como "feita à medida" para proteger Netanyahu, que se diz inocente em três casos de fraude, suborno e quebra de confiança.
A legislação impede explicitamente o Supremo Tribunal de ordenar a um primeiro-ministro que tire uma "licença de ausência".
Ao abrigo da nova lei, apenas uma maioria de três quartos dos votos dos ministros do governo, seguida da ratificação pela mesma proporção de deputados (pelo menos 90 deputados), pode forçar um primeiro-ministro a tirar uma licença temporária, e apenas por razões de saúde mental ou física.
O líder da oposição, o centrista Yair Lapid, criticou a aprovação da lei e os membros da coligação, acusando-os de se comportarem como "ladrões na noite" que "aprovaram uma lei pessoal, obscena e corrupta contra um rumor infundado de uma possível recusa".
Um acordo alcançado com o Ministério Público em 2020, no meio do processo judicial, define que Netanyahu não pode envolver-se politicamente em legislação que afete o poder judicial e, portanto, não pode promover ou votar as leis que compõem a reforma judicial.
LUSA