A rede social "Facebook" podia ter ajudado a reduzir a tensão político-social vivida nos Estados Unidos no final do ano passado, se tivesse agido mais rapidamente, segundo um relatório publicado pela organização sem fins lucrativos Avaaz.
O documento, divulgado terça-feira, indica que conteúdos violentos e informações falsas na rede social receberam biliões de visualizações.
A Avaaz divulgou os resultados de seu estudo dois dias antes do cofundador e presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, testemunhar perante um comité da Câmara dos Representantes norte-americana para referir o papel que sua empresa desempenha na disseminação de informações falsas e extremismo político.
Usando dados do "CrowdTangle", ferramenta do Facebook para que os anunciantes possam quantificar e analisar o impacto do conteúdo na rede social, os analistas de ONG determinaram que a empresa poderia ter evitado até 10,1 biliões de visitas a páginas com informações falsas.
Essas páginas divulgaram mensagens como, por exemplo, que nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, realizadas a 03 de novembro último, iria haver uma fraude, que o candidato democrata e atual Presidente, Joe Biden, era um pedófilo, ou que o então Presidente e candidato republicano, Donald Trump, tinha na sua equipa o maior número de pessoas condenadas por crimes, na história dos Estados Unidos, o que não correspondia à verdade.
"Os eleitores norte-americanos foram alvo de informações falsas e enganosas no ‘Facebook’ em cada etapa do ciclo eleitoral de 2020", disse o gerente de campanha da Avaaz, Oscar Soria, na apresentação do relatório.
Segundo Soria, a plataforma gerou biliões de visualizações de páginas e conteúdos, o que confundiu os eleitores, gerou divisão e caos e até incitou a violência em episódios como o ataque ao Capitólio, em Washington.
"O que é mais preocupante, na nossa análise é que o ‘Facebook’ tinha as ferramentas e a capacidade de proteger melhor os eleitores de serem alvos desses conteúdos, mas a plataforma só os usou no último minuto, depois de já terem ocorrido danos significativos", acrescentou.
A principal ferramenta que os analistas utilizaram para determinar quais foram os impactos que poderiam ter sido evitados foi o facto de o ‘Facebook’ ter começado a restringir a divulgação de boa parte desse conteúdo em outubro, menos de um mês antes das eleições. Assim, foi possível, para estabelecer uma comparação entre o volume de visualizações de conteúdo violento e informações falsas, antes e depois dessas restrições, e observaram como, a partir de outubro, os números caíram consideravelmente.
Usando esta metodologia, a ONG considera que o ‘Facebook’ poderia ter evitado até 10,1 biliões de visitas a páginas que, repetidamente, partilhavam informações falsas, se tivesse ajustado o seu algoritmo e políticas de moderação em março de 2020, em vez de esperar até as semanas finais que antecederam as eleições.
Os investigadores da Avaaz também identificaram 267 páginas e grupos no ‘Facebook’, com um total de 32 milhões de seguidores, que operaram abertamente durante o processo eleitoral, apesar de exaltarem à violência, algo proibido pelo regulamento de uso interno da empresa. A maioria dessas páginas e grupos está ligada a teorias de conspiração como QAnon ou movimentos antigovernamentais como Boogaloo, e quase metade deles ainda estão, atualmente, ativos, destaca o relatório.
Lusa