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Académico condenado no Irão foge a pé pelas montanhas e chega ao Reino Unido

JM-Madeira

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Data de publicação
03 Fevereiro 2021
14:37

Um antropólogo anglo-iraniano condenado a nove anos de prisão no Irão relatou hoje à imprensa britânica como conseguiu fugir a pé da República Islâmica, através das montanhas, para chegar ao Reino Unido e iniciar uma nova vida.

"Fiz uma mochila com um ‘kit’ de higiene, alguns livros e um computador", afirmou o académico de dupla nacionalidade, identificado como Kameel Ahmady, em declarações à estação pública britânica BBC, ao relatar a sua fuga ilegal, de contornos rocambolescos, do território iraniano.

Ahmady caminhou ao longo da fronteira montanhosa do Irão para fugir da Guarda Revolucionária iraniana, um percurso que descreveu como "muito frio, muito longo, muito escuro e muito assustador".

Kameel Ahmady foi libertado pelas autoridades iranianas em novembro passado, após três meses em prisão preventiva.

O académico foi alvo de um "inquérito preliminar" por suspeitas "de ligações a países estrangeiros e a institutos filiados a serviços (de informações) estrangeiros".

Acusado de receber "fundos ilegais" para projetos desenvolvidos por "instituições subversivas", o antropólogo britânico-iraniano, que nega as acusações, foi condenado em dezembro a nove anos de prisão.

O académico seria libertado sob fiança e supervisão judicial, tendo decidido fugir enquanto aguardava uma decisão sobre o recurso que apresentou junto das instâncias iranianas.

A "fuga" de Kameel Ahmady passou pelas estradas cobertas de neve usadas para contrabandear produtos da Turquia e do Iraque, caminhos conhecidos pelo académico de descendência curda e nascido na região oeste do Irão.

Autor de um livro publicado em inglês e intitulado "Em nome da tradição: a mutilação genital feminina no Irão", Kameel Ahmady estudou e analisou durante o seu percurso académico temas como o casamento temporário específico do islamismo xiita ou o casamento precoce de jovens raparigas no Irão.

À BBC, Kameel Ahmady, que aos 18 anos foi enviado pelos pais para o Reino Unido para estudar, afirmou que sempre teve consciência de que corria o risco de ser preso, por causa da sua dupla nacionalidade e por ser "um investigador que investigava questões sensíveis".

Já em declarações ao jornal britânico The Guardian, o académico afirmou que decidiu fugir para ver o filho a crescer.

"Uma vez condenado, tinha a escolha entre ficar e não ver a minha família e o meu filho de quatro anos até aos 14 anos, ou correr o risco de fugir", disse.

Ao canal Channel 4, o académico descreveu o regresso ao Reino Unido como voltar "a uma outra casa", depois de ter sido "forçado a deixar um lugar onde pensava que podia fazer a diferença".

Em declarações ao Channel 4, o antropólogo contou que esteve detido durante 100 dias na prisão de Evine, a norte da capital iraniana, Teerão, em regime de isolamento.

Descreveu como foi mantido numa "pequena sala" enquanto aguardava os interrogatórios, o único momento de contacto humano, reforçando que estes momentos eram "a única distração possível" e "a única tábua de salvação".

Neste momento, Kameel Ahmady mora em Londres, de acordo com o jornal The Guardian.

No Irão, o seu recurso foi rejeitado na segunda-feira.

Kameel Ahmady não é o único anglo-iraniano que enfrentou a justiça do Irão.

Nazanin Zaghari-Ratcliffe, cidadã com dupla nacionalidade (iraniana e britânica), está nas mãos da justiça iraniana desde 2016.

Acusada de tentar derrubar o regime de Teerão, acusação que rejeita, esta funcionária da Fundação Thomson Reuters - ramo filantropo da agência noticiosa com o mesmo nome - encontra-se atualmente em prisão domiciliária com pulseira eletrónica.

Lusa

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