A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Brentwood Park, Benoni, registou hoje uma numerosa presença de fiéis que se reuniram em oração para ação de graças e assistiram à celebração de Missa Solene seguida de procissão em honra de Nossa Senhora de Fátima com orações e cantares junto ao cinerário.
Estes atos destinaram-se a assinalar o 75.º aniversário da fundação da mais antiga igreja portuguesa em território sul-africano. A primeira pedra, foi lançada e benzida pelo então Vigário Apostólico do Transvaal, David O’Leary, a 16 de maio de 1945, ficando a igreja concluída e inaugurada a 13 de novembro de 1948, um templo que assenta na firmeza da fé e das crenças religiosas dos portugueses que um dia, de forma intrépida, e consciente disseram "Adeus Madeira" com a aspiração legítima de um único objetivo: a busca de uma vida melhor.
Foi a demonstração de uma vontade indómita de querer continuar a manifestar a sua fé que levou as autoridades religiosas a abrirem uma missão na África do Sul, e assim, nasceu a primeira igreja portuguesa neste país.
Constam em documentos elaborados após vários estudos feitos por Monsenhor Carlos Gabriel e outros colaboradores que, aproximadamente, sete mil pessoas, a maior parte oriundos da Ilha da Madeira, eram trabalhadores nas minas de ouro de Nigel, Springs, Benoni, Kempton Park e Boksburg.
Aos madeirenses juntava-se outra força laboral de 100.000 naturais de Moçambique. Em consequência das leis rigorosas do "apartheid" os mineiros viviam "enclausurados" e sob um controlo rígido resultante da implementação das leis segregação racial que vigoravam então.
Estes pormenores fizeram que um ilustre e insigne filho da freguesia de São Jorge, Ilha da Madeira, D. Teodósio Clemente de Gouveia, Cardeal-Arcebispo de Lourenço Marques ao ser informado desta realidade, não se acomodou.
Numa visita a Lisboa, dirigiu-se ao então ministério português das colónias a quem fez saber da necessidade premente de fundar uma Missão Católica no então Transvaal (hoje Gauteng), na União da África do Sul.
O movimento corajoso do prelado português fez escancarar as portas para um derrube de barreiras. Ao longo dos anos diversas coisas se foram realizando, como as fontes de angariação de fundos para crescimento e vida da Igreja, onde o madeirense Manuel (Manny) Bairos, empresário, tem tido uma atividade digna de louvor, quer na preparação e organização de fundos com o evidente sacrifício da sua vida profissional e familiar, é presidente da comissão de obras há vinte anos e presidente da Confraria do Santíssimo Sacramento fazendo parte da mesma há 48 anos.
Tem sido interlocutor distinto junto de D. Buti Thlhagale, Arcebispo da Diocese de Joanesburgo na resolução de diferendos legais respeitantes às instalações do Lar de Nossa Senhora de Fátima em Benoni, tendo já conseguido, após porfiadas diligências o mais longo e legal termo de 99 anos de "leasing" da propriedade, o que suavizou algumas tensões existentes.
A sua ação incansável e obstinada para salvaguardar os interesses da sua comunidade, preservando a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, património da comunidade portuguesa. É indizível o que esta igreja representa para nossa comunidade e a mescla de acontecimentos religiosos, casamentos, batizados e reencontros - alguns pelas piores razões - as lágrimas vertidas que ensoparam o chão desta igreja por pessoas com a alma e vida destroçadas pela ação dos agentes da violência criminal, que com toda a desumanidade interromperam a vida de familiares, amigos ou conhecidos, pessoas que ali convergem para a exéquias fúnebres dos seus entes queridos ou para prestar a homenagem anual onde as emoções falam mais alto perante um monumento com o objetivo de perpetuar a memória das vítimas da violência criminal.
Por estas e outras razões o carinho e estima que a comunidade nutre pela sua igreja, de vulgo "a Igreja Portuguesa" a postura de Manuel (Manny) Bairos, é uma postura a todos os títulos louvável. Foram festeiras deste evento as senhoras madeirenses, Dolores Gouveia e Bernardete de Freitas e o mesmo foi abrilhantado pelo DJ Vix, Claúdio Coelho que animou bastante a festa que assinalou os 75.º aniversário, um aniversário muito especial repleto de memórias, glorioso e cativador.
José Luiz da Silva, correspondente em Joanesburgo (África do Sul)