Leite caramelizado e outros mimos

“A avó costuma aquecer o meu pijama com o secador, antes de eu o vestir.” - Confidenciou-me há dias a minha filha. Ela adora ficar a dormir em casa dos meus pais, mesmo que nenhum primo também lá esteja. Gosta mesmo muito daquela casa, por ser “um lugar de aconchego” (palavras suas) e, sobretudo, por poder estar na companhia dos avós.

Sente-se sempre muito feliz quando lá dorme. Assiste aos programas de televisão que a avó costuma ver, come as salsichas e mini pizzas que ela lhe prepara, e veste um pijama bem quentinho, aquecido com o secador, quando vai para a cama. Adora os abraços do avô e que a faça rir com os seus comentários divertidos - diz que ele lhe arranca sempre um sorriso, mesmo quando está triste e inconsolável - e aprecia que mantenha as gavetas bem providas dos seus chocolates preferidos e o congelador a abarrotar com os gelados de que mais gosta.

“O avô é muito engraçado.” - Acrescentou, entre risos.

A minha mãe vai frequentemente ao cinema com os netos (está sempre a par de todos os filmes para crianças que vão estreando), leva-os a passear pela cidade e ajuda-os a completar as coleções de cromos.

Não me lembrando de alguma vez a minha mãe me ter aquecido o pijama, nem do meu pai possuir a habilidade de me fazer rir em criança, não pude deixar de pensar que o comportamento dos avós com os netos é diferente daquele que tiveram para com os seus filhos. A minha avó materna, por exemplo, provavelmente nunca mimou os filhos como veio a mimar mais tarde os netos.

Eu, graças a Deus, fui sempre muito mimada pela minha querida avó Isabel: leite caramelizado levado à cama – que delícia! – assim que me queixava de dores de garganta ou de tosse, borracha de água quente colocada na minha cama antes de me ir deitar, ovos mexidos com tomate natural, tarte de maçã especial e colo, muito colo.

A minha avó nunca se negava a preparar os meus pratos favoritos e fazia de tudo para me ver feliz. Quando regressei a casa após terminar a licenciatura em Coimbra, ofereceu-me uma estante para eu colocar os livros que tinha acumulado nos últimos anos. Sempre atenta, tinha-me ouvido a queixar de não ter onde colocar tantos livros e surpreendeu-me com esse lindo presente.

O amor dos avós, em comparação com o dos pais, é um amor mais livre, despido de qualquer constrangimento, desprovido dos limites impostos pela responsabilidade de quem tem como função direta educar. É um amor carregado de disponibilidade, sabedoria e clarividência. É um amor que tem na base uma infinita paciência, temperado com quantidades generosas de carinho e acolhimento.

Por vezes ponho-me a pensar que tipo de avó serei, daqui a muitos, muitos anos. Será que também vou mimar os meus futuros netos mais do que alguma vez mimei a minha filha? Logo veremos. Por enquanto estou decidida a dar-lhe a provar leite caramelizado já no próximo inverno.