A cidade ao despertar

No final de setembro a minha filha mudou de escola, ao transitar para o 5.º ano de escolaridade. Passámos a ter de atravessar a cidade de carro bem cedo, todas as manhãs, da zona oeste à zona leste. Em vez de irmos por dentro de túneis, chegámos à conclusão que seria muito mais rápido fazermos o trajeto pela Estrada Monumental e Avenida do Mar, sempre acompanhadas pelo mar que se estende ao longo de todo o percurso, do nosso lado direito.

Em direção à escola percorremos um caminho encantador, que nos permite contemplar uma paisagem que todos os dias nos surpreende e arrebata. Olhamos uma para a outra e suspiramos ambas com enlevo.

- Meu Deus - pensamos em voz alta - como o Funchal é lindo!

E o mais incrível é que partilhamos este momento todas as manhãs, o prazer de fazermos parte da cidade que desperta para o dia.

Quando saímos de casa ainda está escuro, mas algumas pessoas já passeiam os seus cães na Estrada Monumental, outras fazem o seu treino matinal, a andar ou a correr.

Pelo caminho o sol vai nascendo devagarinho, espreita lentamente por entre as nuvens, deixando à sua passagem pinceladas alaranjadas no céu. Vemos ao fundo as montanhas com os seus picos ora nítidos e bem recortados, ora envolvidos por nuvens espessas e enigmáticas. Encostas poéticas circundam a baía carregadas de casas brancas e luzinhas a piscar.

- Mamã, é tão bonito! Vou tirar uma fotografia. - Diz-me ela entusiasmada, olhando para mim absolutamente deliciada.

Àquela hora as pessoas caminham calmamente na marginal e vagueiam pelo cais da cidade, respirando o ar puro da manhã que se levanta. Algumas esperam pacientemente nas paragens dos autocarros. Outras caminham em direção à escola ou ao trabalho, sozinhas a ouvir música ou em grupo conversando alegremente.

Tudo em ritmo de passeio, sem pressas, sem atropelos.

Os condutores dos automóveis fazem-nos circular ordeiramente, integrados na acalmia da cidade, como que ainda a espreguiçar, pacientemente, sem buzinadelas, a rolar estrada fora sem urgência.

O mar acompanha-nos sempre, do lado de fora do vidro da janela, ora plano de uma tranquilidade sem fim, ora picado, revolto e agitado.

Bandos de aves voam em círculos contínuos. Os navios de cruzeiro chegam lentamente ao porto, todos coloridos e iluminados, pontuados por repentinos e sucessivos clarões brancos.

- São os flashes das fotografias tiradas a bordo. – Desvendo-lhe o mistério, perante o seu ar intrigado.

Não é que não conhecêssemos já a beleza do Funchal, mas descobrimos agora a nossa cidade à hora do despertar e isso encanta-nos e deixa-nos de coração preenchido.

Às vezes vamos simplesmente em silêncio, a desfrutar a cidade. Deixamo-nos contagiar pela tranquilidade da deslumbrante cidade onde vivemos, que transborda beleza e serenidade ao acordar.