Obrigada, professor!

No domingo passado a turma da minha filha, finalista do quarto ano, juntou-se num piquenique de reencontro com o professor Rui Luís, o seu professor do primeiro ao terceiro ano de escolaridade. Acontece que no quarto ano, por motivo de legítima procura de melhores e mais estáveis condições de trabalho, o professor optou por ir para outra escola, deixando os seus meninos tristes e com muita saudade acumulada durante o último ano letivo.

Ao chegar ao Santo da Serra e ver a minha filha correr pelo relvado até perto do professor e dar-lhe um longo e sentido abraço, tive a certeza de que este deixou uma marca importante na sua vida e teve um papel de relevo na estruturação da sua personalidade.

Recordei, naquele momento, alguns dos professores que fizeram parte do meu percurso académico, deixando o seu traço na minha vida, cada qual contribuindo a seu modo para que eu seja quem hoje sou.

Lembrei-me da professora Amélia, a minha professora primária, que tem uma grande responsabilidade no facto de estar aqui, há já quase três anos, a escrever crónicas no JM. Foi ela quem me ensinou as regras da escrita correta, mas sobretudo quem me deu a conhecer os mundos infinitos e mágicos escondidos dentro dos livros. Lembrei-me da Irmã Conceição, que me ensinou a ser criativa e a compor textos impossíveis, harmonizando mundos desconexos com as palavras aparentemente sem ligação que nos indicava. Recordei a inesquecível professora Fernanda, com a sua paixão pela língua Portuguesa e pela palavra escrita. Recuperei o Professor Angélica, homem muito à frente do seu tempo, livre, para quem o ensino não se resumia ao programa dos livros. E tantos, tantos outros.

Por isso sei que a minha filha jamais esquecerá o professor Rui. O professor que lhe ensinou a fabulosa arte da escrita, que lhe incutiu o gosto pelos livros, que explicou como deve estudar, compreendendo bem a matéria, sem necessidade de recurso à memorização. O professor que lhe transmitiu a necessidade de trabalhar com brio e a fez ter orgulho nas suas conquistas, por si, mas também por ele.

Com todo o seu inteligente sentido de humor ensinou, de forma leve e engraçada, com estratégias eficazes e facilitadoras, o Português, a Matemática, o Estudo do Meio. Mas, sobretudo, ensinou a minha filha a ter confiança nela própria, a acreditar no seu valor e nas suas capacidades. Ensinou a importância da exigência e do rigor, de não ficar abaixo daquilo de que é capaz, de dar em todas as ocasiões tudo o que está ao seu alcance. Ensinou como é fundamental construir uma turma unida e amiga, rapazes e raparigas, pois durante quatro anos teriam de conviver uns com os outros por infindas horas, lado a lado, partilhando momentos bons e menos bons. Ensinou aos seus meninos que unidos seriam mais fortes.

As crianças escreveram no Santo da Serra um postal gigante com frases de agradecimento ao professor Rui e não resisti em espreitar o que a minha filha lhe escreveu. Foi qualquer coisa como: “Obrigada, professor Rui, por ter sido parte da minha felicidade. Obrigada por nos ter unido.”

Exatamente como disse quando dirigiu algumas palavras aos seus “pestinhas”, o professor Rui também ficará para sempre nas nossas cabeças e nos nossos corações. Porque, como diz o fado, “há gente que fica na história da história da gente”. JM