Crónica dos amores eternos

A minha mãe disse-me há tempos que temia muito as minhas escolhas no que diz respeito ao amor. Porque os meus amores têm sido atribulados, vividos com pessoas complexas, labirínticas. Porque nunca há simplicidade, linearidade e facilidade no caminho que percorremos juntos.

Por coincidência, há pouco tempo ensinaram-me que, no amor, há sempre um fio condutor. E perguntaram-me qual o fio condutor dos meus amores. Naquele momento fiquei sem saber o que responder, porque, na verdade, aparentemente os homens que fizeram parte da minha vida são muito diferentes uns dos outros. Não fui capaz de identificar qualquer fio condutor.

Mas logo de seguida veio-me à mente o momento emotivo em que me despedi do homem com quem casei para a vida toda. Envolvemo-nos num abraço imenso, que dura até hoje, oferecemo-nos um beijo longo, do tamanho do mundo, e ele garantiu-me, entre lágrimas, que, independentemente das nossas vidas seguirem percursos diferentes, eu teria sempre o seu amor.

Disse novamente adeus, no ano passado, a um amor intenso. Despedimo-nos com a dor de quem parte ainda com muito amor, levando o nosso amor pelo tempo das nossas vidas. Ele disse-me, na despedida, que eu seria para sempre a mulher da sua vida.

Nenhum dos grandes amores que vivi terminou por falta de amor. Os relacionamentos acabaram por causa do amor, para que fosse possível manter em nós, para sempre, o nosso amor. E foi com amor que tomámos a decisão, difícil e dolorosa, de prosseguirmos a vida por caminhos separados.

Cá está o fio condutor. O fio que une os amores que vivi numa lógica sequencial simples de entender.

Eu apaixono-me por homens intensos, profundos, com uma capacidade incrível, desmesurada de amar. Apaixono-me por homens românticos, capazes de me tomar nas suas vidas e dedicarem-se a mim com toda a força dos seus sentidos, das suas emoções, com todo o seu ser. Apaixono-me por homens que me vão amar eternamente.

Nenhuma escolha que fiz foi errada. Por isso, quando encontro alguém em quem reconheço essa capacidade, teimo em mergulhar novamente sem receio. O amor, para mim, é para ser saboreado momento a momento, sem pensamento que não seja acreditar na eternidade daquilo que, mesmo quando chega ao fim, perdura pelo infinito.

Sei que vale a pena voltar a viver este tipo de amor atabalhoadamente perfeito. Porque sei que será garantidamente um grande, grande amor. E sei também que, se um dia dissermos adeus, será ainda com muito amor. E ele me dirá, pela última vez, na despedida: “Meu amor, meu amor, és a mulher da minha vida!” JM