Do amor ao infinito
Meu amor, quero escrever-te o nosso amor.
Quero que aquilo que já te disse através dos meus silêncios, que já sentiste no fundo dos meus olhos, no pulsar do meu corpo, te seja dito através da palavra escrita, da palavra que fica para sempre.
Quero que leias o nosso amor nas minhas palavras. O amor escrito para ti, que me dizes e repetes o que sentes, todos os dias, vezes e vezes sem parar….
Quero dar-te o amor em palavras, porque foram as palavras que nos uniram. As palavras que dizes e escreves com aquela dose de loucura e nudez que me encanta.
A tua escrita enfeitiçou-me profundamente e foi-me puxando para ti. Semana após semana. Como a ponta de um novelo que encontrei (ou que me encontrou?) e fui enrolando até chegar a ti. Até chegar ao lugar onde quero ficar.
Eu tinha de te conhecer. Porque o fascínio que me causaste foi maior que toda a racionalidade que carrego, como um fardo pesado, em mim. Subjugaste por completo a minha razão e fizeste com que a emoção falasse mais alto. Fizeste com que o sentir se impusesse, não dando mais para ignorar o seu grito.
Ainda assim pensei, tantas e tantas vezes: “Como é possível amar alguém que não conheço? Como é possível querer tanto alguém que nunca vi?”
Mas na verdade não tive como fugir ao destino. Apaixonei-me pelo escritor atrás das palavras. Apaixonei-me pelo homem maravilhoso, puro, terno e intenso, revelado nos textos. Apaixonei-me pelas personagens que fazem o mundo da tua escrita. Apaixonei-me pelo nómada, pelo selvagem, pelo menino perdido de si mesmo, pelo amante, pelo homem labiríntico, pelo melancólico, pelo náufrago. Apaixonei-me por todas as partes que te fazem.
E, num impulso irresistível, escrevi-te para te dizer que a tua escrita me comove, me diverte, me angustia. Escrevi-te para te dizer que me fazes sentir. E que a riqueza da tua escrita reside nesse mundo fantástico que tens no teu interior. Por vezes eufórico, a transbordar de amor. Por vezes torturado, na crença da tua menos valia.
Tu viste-me, então, na multidão. Descobriste alguém com quem partilhavas as ruas, os lugares, os cheiros, a cidade, a ilha, mesmo que a horas diferentes, mesmo sem me conhecer. E confessaste que encontravas na minha escrita uma enorme serenidade. A serenidade simples, rudimentar, mágica, que tanto aprecias e anseias. Prometeste que um dia nos cruzaríamos na cidade e nos sentaríamos numa esplanada falando sobre as coisas da vida e do mundo, as que nos inquietam e as que nos encantam, as que nos arrasam e as que nos apaixonam e sobre tudo o que faz de nós seres humanos.
Durante meses fomos construindo um amor antigo, um romance epistolar. Tu atravessaste a ponte sobre a minha serenidade. E eu atravessei o caminho, por vezes acidentado, para a tua alma.
E assim, enfeitiçados, fomo-nos sentindo com muita intensidade, cada vez mais próximos. O destino destinou e a nós, que já nos conhecíamos, cabia o resto. Tornou-se inadiável, imprescindível, ouvirmos a voz, sentirmos o olhar, sorrirmos com o sorriso do outro. Tornou-se urgente o abraço a que nos entregámos quando nos vimos pela primeira vez.
Fui até ti, meu amor, para ser tua. Para que me iluminasses com a luz que emanas e me inundasses da esperança que transportas a favor da vida. Para que me mostrasses que o amor pode ser a espada contra o medo do mundo.
E agora, meu amor, quero ter tempo para percorrer contigo o caminho que agora é nosso. Anseio pelo tempo que precisamos para este nosso amor maduro, inteiro e pleno, que é tão humano quanto divino.
Ai, meu amor, quero o tempo para viver este amor como ele merece ser vivido. O tempo para sermos um no outro. Para sempre. Até ao infinito.