O poder do elogio

Durante muito tempo não tive coragem de dizer às pessoas o quanto gosto delas, como as acho tão especiais, como aquilo que fazem tem tanto valor. Talvez por receio de parecer inoportuna, inusitada, atrevida, talvez por achar que o seu valor é tão óbvio que não precisa de ser realçado.

Mas fui-me apercebendo que, de cada vez que alguém me faz um elogio, eu fico surpreendida. Causa-me sempre estranheza, por nunca me ter passado pela cabeça que aquela pessoa reconhecia essa qualidade em mim. Mas fico feliz, de alma cheia, por salientarem os meus pontos fortes. E imbuída dessa força tento fazer mais e melhor.

No fundo ninguém está à espera de ser elogiado, por mais seguro e ciente do seu valor que seja. Há como que um bloqueio. Mas isto não devia ser assim. Sobretudo porque o que move o mundo é o desejo de reconhecimento. Todos nós precisamos disso, desse empurrão que nos diga que estamos no caminho certo, desse combustível que nos dê energia para prosseguirmos a nossa vida e os nossos projetos.

Por isso, nos últimos anos tenho procurado não calar elogios. Quando constato uma qualidade numa pessoa, arranjo ousadia suficiente para me dirigir a ela e dar-lhe a conhecer a minha admiração. E, acreditem, por mais estranho que pareça, este exercício de atrevimento é quase mais difícil de fazer com as pessoas que nos são próximas, que partilham connosco o nosso dia a dia, do que com as pessoas que mal conhecemos.

Peço sempre à minha filha e aos meus sobrinhos que, se não têm nada de agradável para dizer, fiquem calados. Mas se têm elogios sinceros a lhes passar pela mente, não deixem de os dizer. Acho importante que comecem desde cedo, enquanto crianças e adolescentes, a assimilar esta cultura do elogio, de saber elogiar quem merece. Porque nem sempre é óbvio para os outros as qualidades que têm. Porque o reforço positivo fará com que melhorem a consciência que têm de si próprios.

No mês passado a minha filha teve uma aula de dança aberta para os pais. Assisti à aula e observei o trabalho fantástico que a professora faz com aquelas meninas. Nunca vi a minha filha tão motivada, tão entusiasmada e feliz com uma atividade. Passa a semana à espera da aula que tem ao sábado, que a deixa tão feliz e realizada. E tem aprendido muito, evoluído imenso. No fim da aula, ao cumprimentar a professora, que é uma rapariga muito jovem, disse-lhe isso mesmo. E ela começou a chorar, emocionada. Foi um elogio sincero e justo, mas provavelmente nunca ninguém lhe tinha dito aquilo que eu disse.

Ao contar este episódio ao meu sobrinho, que tem a idade da minha filha, ele percebeu perfeitamente o que lhe estava a tentar transmitir. Estávamos no carro, parados no semáforo do Campo da Barca, e ele, apontando para a Baleia do outro lado da Ribeira, contou que o seu Pai, um dia, ao ver o artista sentado no andaime a executar a sua obra, parou a mota e dirigiu-se a ele, felicitando-o pelo magnífico trabalho. Não sei se Marcos Milewski ficou surpreendido com o elogio, mas de certeza que ficou feliz.

As coisas boas acerca dos outros que nos passam pela mente não devem entoar apenas na nossa cabeça. Devem ser partilhadas. Porque o reconhecimento é motivador e leva-nos mais longe. Muito longe.