As resoluções que me ditaram
Esta é a minha primeira crónica do ano. E nesta altura do ano que, para mais, tem o peso acrescido de trazer ainda, daqui a poucos dias, o meu aniversário, não há como fugir às resoluções de novo ciclo. Os anos vão passando, a vida vai seguindo o seu curso e vou ficando cada vez mais com a noção clara do impacto de cada escolha que fiz, de cada passo que dei, de cada decisão que tomei. Tudo somado trouxe-me ao ponto onde me encontro neste momento.
Hoje sei perfeitamente que grande parte do que sou e do que conquistei não foi obra do destino. Dependeu sobretudo de mim, apenas de mim. Das grandes e pequenas decisões que foram muito refletidas e ponderadas, mas também das escolhas feitas por impulso, sem lhes dar qualquer importância e sem lhes dedicar nenhuma reflexão.
Torna-se inevitável olhar para trás e ver tudo o que já fiz e vivi. Mas também olhar para a frente e tentar projetar tudo o que ainda tenho por fazer e viver. Por isso este ano, ao contrário de anos anteriores em que a minha resolução tem sido a de não fazer resoluções, elaborei mentalmente a minha lista de resoluções para o novo ano. Coisas que quero fazer, aprender, mudar, eliminar na minha vida.
Até que, em conversa entre amigas, uma delas comentou que a filha é quem lhe tinha feito a lista de resoluções de ano novo. Todos os anos na sua família fazem assim, cada um faz a lista para outro. Este ano coube à filha preparar a lista de resoluções da mãe, à mulher preparar a do marido e ao pai preparar a da filha. Isto pareceu-me absolutamente fantástico! Interessantíssimo. De facto, as pessoas que nos são próximas e que mais nos amam conseguem ver-nos com outros olhos, com uma lucidez que por vezes nos escapa. Conseguem ver-nos à luz de um sentido crítico que nós não temos de nós próprios. E amam-nos tanto que adivinham o que nos vai fazer felizes. É de todo coerente que sejam elas, com o seu discernimento, a dizerem-nos o que pensam que devemos mudar nas nossas vidas, os aspetos que podemos melhorar e os comportamentos que devemos passar a adotar.
Não pondo de lado as resoluções que tinha já tomado para o novo ano (cuidar da minha saúde física, aprender a meditar, praticar Pilates, ler e viajar mais), pedi à minha filha que me preparasse uma lista das coisas que gostaria que eu fizesse este ano. Enquanto ela preparava a minha lista, preparei a lista de resoluções para ela. E depois comunicámos (e justificámos) cada uma das resoluções que ditámos para a outra.
Em primeiro lugar, a minha filha quer que eu lhe dê mais atenção e brinque mais consigo. Depois quer que eu saia de casa e me divirta mais com as minhas amigas. De seguida desafiou-me a não ser tão exigente comigo própria, nem com ela. Logo depois impôs-me a tarefa de arranjar uma moradia linda para nós as duas. E, finalmente, rematou com “dar-me um irmão ou uma irmã”.
Fiquei a olhar, assustada, para esta lista. Tudo o que me pede é de facto aquilo que preciso de fazer. Mas é tudo extremamente desafiante e difícil. Combater o estado de exaustão com que habitualmente chego à noite a casa e arranjar força e energia para ainda brincar a um jogo ou fazer uma construção de legos. Combinar mais programas que me arranquem de casa e me façam conviver mais com amigos. Programar a minha mente para deixar de ser tão perfecionista e exigente comigo e com ela, pois isso é muito cansativo e deixa-nos sempre o travo amargo de julgarmos não ter estado à altura das expetativas, mesmo quando notoriamente estivemos. Arranjar um modo de conseguir concretizar o nosso sonho de termos uma casa com jardim e espaço ao ar livre para termos um cão connosco. Ter mais um filho, dando-lhe um irmão.
A lista de resoluções que a minha filha fez para mim é exigente. Mas é inadiável. Porque o que me pede é que seja mais disponível, empenhada e dedicada com quem mais amo, que traga mais alegria e diversão para a minha vida, que seja mais leve e tolerante comigo e com os outros e que concretize grandes desejos de longa data. Não há como recusar.