Os dias que não acabam
O despertador toca de manhã cedo. Acordamos. Levantamo-nos da cama e iniciamos o nosso dia.
Quando começamos o dia não fazemos ideia de como vai acabar. Pensamos que será um dia vulgar, igual a todos os outros que se vão sucedendo na nossa vida. Mais um dia. Sem nada de particular que nos faça dele recordar mais tarde.
Mas há dias que mudam a nossa história. Dias que ditam que nada mais será igual. Dias em que somos atirados para o olho do furacão. Dias em que entramos numa espiral de acontecimentos totalmente fora do nosso controle. Dias em que começamos a perceber que a vida, tal como a conhecíamos, não regressará.
Há dias que deixam marca. Alguns dias da nossa vida nunca mais serão esquecidos. Pelo rasto de alegria ou tristeza que deixaram e que jamais se apagará.
Dias que nos mostram que as respostas que tínhamos estavam erradas, que as perguntas que nos fizemos estiveram sempre erradas.
Que nos roubam os pensamentos, nos deixam perdidos, sem chão. Em que o coração insiste em contorcer-se no nosso peito e as emoções não nos deixam dormir.
Certos dias que nos mostram que a vida dentro de nós está suspensa, porque o coração parou. Mas o cérebro continua a trabalhar a uma velocidade vertiginosa.
Há dias em que chegam pessoas à nossa vida. Inesperadamente. E há dias em que essas pessoas nos deixam. Partem para mudar a vida de outra gente, num desapego que nos desconcerta.
Certos dias deixam-nos como que em suspenso. Obrigam-nos mesmo a suster a respiração. Atiram-nos para a dor do silêncio.
Dias que não acabam. O sol põe-se, nasce de manhã bem cedo, volta a pôr-se trazendo a noite, e depois surge trazendo o amanhecer. No entanto, continuamos sempre no mesmo dia. Há dias que chegam para nunca mais ir.
Dias em que o destino destina. Mas, como disse Miguel Torga, o resto é comigo. JM