Para descobrir a face de Deus, para conhecer a sua revelação, é preciso abaixar-se, inclinar-se até à terra e procurá-lo no meio dos homens, porque, escreve São João, o Senhor veio habitar no meio de nós" (Jo.1,14).

Consultando a Sagrada Escritura, no Salmo (64,7) lê-se que: "O íntimo do homem é o seu coração: um abismo." A mesma Bíblia diz-nos que a história humana é o "lugar" que Deus escolheu para tornar-se visível e conhecido através do seu agir em favor da humanidade. Por isso revela-se como o Deus de alguém, de Abraão, de Isaque, de Jacob, enfim de todo o povo de Israel e, na plenitude dos tempos, através de Seu Filho Jesus Cristo, de todos nós.

Santo Agostinho escreve nas suas Confissões, já depois da sua conversão que "procurava Deus fora de si, quando afinal Ele estava dentro de si mesmo".

A "GAUDIUM ET SPES do Concílio Vaticano II diz: Que a história dos homens e dos povos, a vida concreta de pessoas imperfeitas, com os seus dramas e as suas vitórias "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias, é o lugar do trabalho da redenção, é o terreno mediante o qual Cristo semeia o germe da vida nova. São Paulo exprime a mesma doutrina ao dizer e escrever: "que a criação geme e sofre as dores do parto até hoje" (Rom,8,21). Continuando a mesma reflexão, São Paulo ensina: "Que a fé vem da audição da Palavra de Deus" e começa a aventura da boa batalha da fé, que cada discípulo descobre que é chamado a sair de si mesmo para encontrar Cristo, reconhecendo que Ele o impele a reencontrar a sua presença na humanidade ferida que se torna seu próximo.

A fidelidade a Deus exige que se guarde fidelidade de si a Deus, como oramos na Santa Liturgia "não permitais que me afaste de Vós". Deus fala à maneira dos homens, é uma referência ao Concílio Vaticano II na Dei Verbum (Palavra de Deus), para isso é preciso ter em conta a sua cultura, a escolha do género literário, os modos de exprimir-se e recontar um facto usado nessa época em que foram redigidos os textos sagrados.

Santo Agostinho, o bispo sábio de Hipona, e a Igreja em todos os tempos, resume esta doutrina em três palavras latinas "per homines hominibus", Deus dispensa a sua palavra aos homens por meio dos outros homens. Significa que a ideia fundamental para compreender a plenitude e o fim da lei de todas as Escrituras divinas é o amor. Deus fala aos homens de maneira humana, porque na Encarnação do Verbo assumiu a forma de expressão da realidade humana do amor, e o eleva à qualidade divina das relações entre as Pessoas divinas.

É o amor de comunhão, no qual a unidade é recíproca compenetração que não suprime as diferenças. O amor, como escreve o Papa Francisco, é a melhor chave interpretativa para ler a Sagrada Escritura (Evangelii Gaudium). O contacto que deve ter o cristão com as Escrituras sagradas ´é essencial para tirar a máscara que se se esconde no coração dos humanos como também para a injustiça que viceja no mundo em que vivemos. É preciso abrir o nosso coração, missão pedagógica que tem a Sagrada Escritura em relação com a doutrina social da igreja. Escreve São Paulo que: "Toda a Escritura é útil para" ensinar, convencer, corrigir, "mas a sua função educativa tem como finalidade principal educar para a justiça".

Com palavras mais simples exprime-se Santa Teresa de Calcutá, que morreu há 25 anos. Quando retornava de Oslo, no dia 5 de setembro, após ter recebido o prémio, encontrou um jornalista que lhe disse: "Madre, vós tendes 70 anos. Quando morrer, o mundo será como antes, que mudou depois de tanta fadiga?" Ela respondeu: "Veja, eu nunca pensei mudar o mundo. Procurei somente ser uma gota de água pura na qual pudesse refletir o amor de Deus. Parece-lhe pouco?" Noutra ocasião disse: "A vida é o maior dom de Deus. É por isso que é uma pena ver o que acontece hoje: a vida é voluntariamente destruída pela guerra, pela violência, pelo aborto. E nós fomos criados por Deus para coisas muito grandes: amar e sermos amados".