A verdadeira natureza humana

Se todos os atentados terroristas são um ato de covardia, o atentado de Manchester elevou essa covardia ao seu expoente máximo. Até agora as crianças tinham sido vítimas colaterais dessa gente bárbara e irracional, mas agora foram um alvo deliberado. Fazer-se explodir num recinto cheio de crianças e adolescentes revela um desprezo absoluto pelos valores mais elementares da humanidade.

Mesmo em cenários de guerra, as partes beligerantes procuram respeitar a população civil, sobretudo as mulheres e as crianças. Atentar contra crianças, tornando-as personagens de uma cena de terror, com morte, gritos, pânico, sangue e lágrimas à mistura, é ser doente, muito doente. Querer tirar-lhes a vida, tirar-lhes a inocência, tirar-lhes para sempre a sensação de segurança, tirar-lhes a capacidade de acreditar no bem, é descer às cavernas mais profundas do degredo da natureza humana.

Não há explicação possível para estes atos. Os terroristas não estão a lutar por um ideal, nem por uma religião, não estão a defender as fronteiras de um país, não estão a fazer valer princípios e valores.

Para eles a vida não tem qualquer valor. É gente que se sente tão vazia e infeliz que retorcidamente vê um qualquer sentido em morrer levando inocentes consigo. Apenas querem espalhar o medo. Apenas querem destruir e matar.

Esta é uma guerra sem regras e sem limites. É uma luta que dificilmente terá um fim, porque não há qualquer espaço para diálogo, cedências, compromissos, que é o que faz com que as guerras terminem. Não é possível chamar à razão quem não a tem.

Infelizmente as nossas crianças começam desde cedo a perceber que os lobos maus também existem na vida real. E que estão perto. Mas temos de lhes mostrar o outro lado que também existe. Porque em todas as histórias de terror que nos chegam há também sempre muito amor.

É sobretudo nestes momentos em que tudo parece ficar sem cor que vemos o melhor da natureza humana a vir à superfície. Há relatos de gente maravilhosa que salva heroicamente a situação, ajudando e apoiando os que mais precisam. Há muita solidariedade e altruísmo. Pessoas a colocarem-se em risco para ajudar desconhecidos. Estruturas rapidamente improvisadas para acudir os aflitos. Palavras de conforto, abraços e sorrisos para quem está ao seu lado. Olhares de esperança.

A natureza humana é esta. A verdadeira. E por isso, seja lá o que suceda, por mais horrores a que ainda tenhamos de assistir, de uma coisa podemos estar certos. No final, o bem sempre vence o mal.