Enquanto jovem, até por volta dos 35 anos, Xavier Mosquete só quis saber de mulheres para fins exclusivamente sexuais, mas a todas dizia "amo-te", porque a combinação de sexo e amor, mesmo quando um era mau e o outro a fingir, lhe incutia uma tremenda sensação de liberdade, só comparável com a que tinha conhecido na infância, em África, de pés descalços e tronco nu, de fogueiras na praia e brincadeira no mato, de luz intensa e espaço sem fim. Conheceu muitas, mesmo muitas, de várias raças e nacionalidades e aprendeu a dizer "amo-te" em muitas línguas e dialetos.

Depois, sem saber porquê, deu-lhe vontade para se casar e ter filhos, como toda a gente, e viveu obcecado com isso até aos 40 anos. Mas aquilo foi como atravessar o deserto sem água, porque todas o desejavam, é certo, mas ele entendia que nenhuma o queria de verdade, devido à sua fama de mulherengo. Xavier Mosquete pensava que as mulheres o pretendiam apenas por causa daquela mania horrível que todas têm de ser capazes de mudar os homens e isso estava a dar com ele em louco.

Então, para resolver o problema, propôs casamento à prostituta da sua preferência.

Chamava-se Sona e era natural de um país longínquo. Era baixinha e feia, a pele muito escura e o nariz largo e achatado, mas nunca na vida Xavier Mosquete tinha visto um par de mamas tão perfeito, nem ancas tão bem torneadas e apetitosas, nem carne tão macia e aveludada como aquela. Era, de facto, maravilhosa. Sempre que se inquietava com a sua condição de burguês ou quando se aborrecia com as coisas bem arranjadinhas, frescas e brilhantes do seu meio, corria desesperado para ela e só voltava dois ou três dias depois.

Sona ficou perplexa com a proposta de Xavier Mosquete e achou que ele estava a gozar, mas disse que sim. Dizer "sim" era a aventura da sua vida, o mecanismo que lhe permitira viajar, conhecer o mundo e a alma dos homens.

- Sim, meu amor! Sim! - Disse ela.

E depois encheu o quarto com uma gargalhada austral, de tanto cristal e sal.

Casaram-se num domingo em agosto, segundo o ritual católico, ambos vestidos de branco, num contraste ofuscante com a cor da pele. Apesar da diferença de tamanhos - ele alto e possante, ela baixa e insignificante -, estavam muito bonitos e pareciam mesmo feitos um para o outro, de tal modo que toda a gente se sentiu feliz naquele dia.

A festa prolongou-se até de madrugada e Xavier Mosquete embebedou-se de tal modo que, depois, ficou a dormir durante vinte e seis horas.

Quando acordou, na manhã de terça-feira, procurou a mulher por toda a casa e não a encontrou. Saiu à rua e procurou-a no bairro, mas não a encontrou. Depois, procurou-a na vila e também aí não havia sinal dela. Nos dias seguintes, procurou-a por toda a ilha, por todo o lado, e não a encontrou. E o mais enigmático é que ninguém, mesmo ninguém, a tinha visto em lado algum desde a festa do casamento.

Caiu, então, sobre ele a forte suspeita de ter assassinado a mulher e a polícia pôs-se a investigar o caso. Mas não havia testemunhas, nem pistas, nem nada de nada, e as buscas para encontrar o corpo ou o paradeiro de Sona revelaram-se também absolutamente infrutíferas.

Xavier Mosquete, que vivia fechado num sonho desde o dia da boda, foi inocentado e com isso despertou para uma nova vida.

Foi viver para o continente e não voltou a casar-se, nem quis saber mais de mulheres, mas meteu-se na política, essa fêmea infinita, onde revelou dotes fora do comum. Chegou a líder do partido, mas quando este venceu umas eleições importantes recusou cargos no governo. Estava velho e cansado e optou por regressar à sua terra natal. Tinham passado trinta anos sobre o misterioso desaparecimento da noiva e ele retomou a busca no exato ponto onde começara - em casa. Até hoje. Até ao dia da sua morte.

- Onde estás, meu amor?