MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

13/06/2021 07:00

Eusébio de Cesareia é conhecido pelo Pai da História Eclesiástica, teve o mérito de ter salvo a riqueza imensa da documentação, prescindindo do seu caráter apologético, conhecia perfeitamente as regras seculares da antiga historiografia. Tendo nascido entre os anos 260 e 264, acumulou na grande e culta cidade de Cesareia, onde já se reunia o ingente espólio do grande génio Orígenes. Após a perseguição do imperador Valeriano (258- 260) reuniu um catálogo completo das obras de Dionísio de Alexandria.

Passou quase toda a sua vida na cidade romana mais importante da Palestina, Cesareia marítima, construída por Herodes o Grande, em honra do César de Roma que o tinha nomeado Rei dos judeus.

Eusébio fez parte do grupo do bispo Pânfilo, com o mesmo ideal e amor às Sagradas Escrituras e vida cristã. Trabalhavam para restaurar e ampliar a biblioteca de Orígenes, para a fixação do texto bíblico que depois enviavam para as diversas igrejas. Fazia parte do programa as obras dos autores cristãos, ortodoxos e heréticos, dos judeus e dos pagãos, assim como tudo o que poderia fazer parte da exegese, apologética e história em geral. Eusébio acumulou um material exegético, apologético e histórico incomparável. Em fevereiro de 303 rebentava na Nicomédia a perseguição contra os cristãos, tendo Pânfilo sido detido e, mais tarde, também Eusébio, que saiu da prisão com plena integridade física e moral. Com a morte do bispo Agápio, elegeram Eusébio para suceder como bispo de Cesareia. Durante a perseguição, Pânfilo e Eusébio escreveram 25 livros contra Porfírio e Estratos dos Profetas. Com a chegada de Constantino como imperador, realizou-se o Concílio de Niceia no qual participou o bispo de Cesareia, Eusébio. Para este bispo, Constantino realizava o ideal do imperador cristão, como cabeça da igreja com a função de vigário de Deus. Apesar de passados os setenta anos Eusébio continuou a sua obra literária e fama merecida de escritor fecundo, São Jerónimo diz que escreveu "infinitos volumes".

No plano da história Eclesiástica diz ser seu propósito consignar as sucessões dos santos apóstolos, o tempo que decorreu desde o nosso Salvador até nós, assim como os martírios dos nossos tempos e a proteção benévola do nosso Salvador. Eusébio acumula todo o material histórico em dez livros, no primeiro livro inclui o Império de Augusto (44 a.C.-14 d.C.) e o de Tibério (14-37), neste livro inclui o nascimento de Cristo, a pregação, vocação dos "Doze", genealogias, magos, Arquelau, testemunho de Flávio Josefo, os apóstolos e os Setenta discípulos. No segundo livro, os Começos da Igreja, Pilatos e Tibério, Herodes Agripa I, Final de Pilatos. Império de Cláudio (41-54), perseguição da Igreja, final de Herodes Antipas I, origem do evangelho de Marcos e fundação da Igreja de Alexandria, Aquila e Priscila, desgraças dos judeus. Império de Nero (54-68), últimos anos de Paulo, Martírio de São Tiago o Justo, perseguição contra os cristãos, Martírio de Paulo e Pedro, Começos da guerra judia. No Livro Terceiro, inclui: O primeiro Bispo de Roma, Escritos de Pedro e Paulo, a pregação de Paulo e de Pedro, Seguidores de Paulo. Do Império de Vespasiano (69-79) a guerra judia, Flávio Josefo e escritos, Sucessão dos bispos de Jerusalém, Perseguição de Vespasiano aos judeus.

Em relação a São Tiago, refere no Livro Segundo, no Império de Nero (54-68) o Martírio de São Tiago o Justo, e no Livro Sétimo, no Império de Galieno (261.268) O trono de São Tiago em Jerusalém.

Para falar do martírio de São Tiago, Eusébio cita o testemunho de Hegésipo que pertence à primeira geração sucessora dos apóstolos que, no livro V de suas Memórias diz assim: "Sucessor na direção da Igreja é, juntamente com os apóstolos, Santiago, o Irmão do Senhor. Todos lhe dão o nome de "Justo", desde os tempos do Senhor até aos nossos, pois eram muitos os que lhe chamavam Santiago". O grande valor da História Eclesiástica é o número avultado de citações, as suas fontes antigas têm mais de 250 passagens, das quais metade seriam completamente desconhecidas se não fossem salvas por ele. Além disso, tem uma centena de resumos, um terço dos quais são de textos completamente perdidos. Eusébio só se sente à vontade quando lhe falam as fontes. Teve à sua disposição bibliotecas riquíssimas para aqueles tempos, tais como a de Cesareia, a Élia Capitolina e a de Jerusalém, dispunha de cartas, atas dos mártires, obras apologéticas, antiheréticas, além das valiosíssimas obras do grande Orígenes.

Cita sempre com grande exatidão, contanto que os textos fossem corretos nas suas fontes. Segue o método da escola alexandrina de filologia, ao citar os autores ajunta também as outras obras do mesmo escritor, para a vastidão da sua obra, o Bispo Eusébio serviu-se também de secretários.

Os investigadores sobre Jesus e os "Doze" são hoje muito numerosos, exegetas, linguistas, historiadores, antropólogos e arqueológos, trabalham com paixão para melhor conhecer Jesus, a sua vida, a sua missão e sua época.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a mudança regular da hora duas vezes por ano?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas