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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

30/05/2021 07:00

Após tantas dúvidas e discussões, a passagem de São Paulo aos Gálatas (1,19) “Eu não vi nenhum dos outros apóstolos senão Tiago, o Irmão do Senhor,” este Tiago é o apóstolo, filho de Alfeu. A importância que ele gozou nos anos após a ressurreição de Jesus, não se explica somente pelo parentesco com o Mestre, o apego às instituições judias em Jerusalém levou a comunidade cristã, devido à santidade exemplar da sua vida, a designá-lo para dirigir a comunidade da Igreja da cidade santa, a sua carta foi conhecida em diversas cidades do oriente cristão.

A influência da sua epístola aparece já no Pastor de Hermas, nos escritos de Clemente de Alexandria, na Epístola de Barnabé, nos autores do século III, Justino, Teófilo de Antioquia, Hipólito de Roma; segundo Eusébio de Cesareia a maior parte das igrejas do oriente liam publicamente a epístola.

Os padres latinos receberam–na mais tardiamente. Após melhores relações com o oriente, é recebida por Hilário, Atanásio e Jerónimo, sendo a carta do apóstolo conhecida e utilizada nas igrejas da Itália, das Gálias, Espanhas e África. As incertezas provinham de Tiago ser ou não apóstolo; as mesmas dúvidas apareceram em relação à Carta aos Hebreus. São Marcos e São Lucas não foram apóstolos, mas os seus evangelhos nunca foram desacreditados, gozaram de uma apostolicidade derivada de Pedro e de Paulo O grande Orígenes encontrou a carta de São Tiago no Canon Alexandrino, tratou-a com o mesmo valor dos outros escritos do Novo Testamento.

A carta de São Tiago assemelha-se a um escrito polémico, é dirigida contra os hereges, ele atira-se contra os indivíduos que se revoltam contra a doutrina da igreja e colocam em perigo a fé. Assemelham-se às árvores estéreis que no outono não produzem fruto, ou então são árvores mortas, sem raízes e secas, merecem um castigo exemplar, não serão poupados como os habitantes de Sodoma e Gomorra.

Serão condenados às trevas eternas e ao suplício do fogo. Refletindo sobre os imorais diz que a sua carne está poluída como se fosse um vestido sujo, são conduzidos pelas suas paixões, entregam-se à impureza e tentam justificar as suas teorias libertinas. Por fim, quando chegam notícias alarmantes com os erros dos heréticos, a carta não diz como se opor eficazmente às suas doutrinas. Trata-se da gnose que se difunde a partir do século II.

São Tiago devia ter escrito a sua carta antes do ano 70, com a destruição do Templo e da cidade de Jerusalém, o estilo semitizante mostra que ela se dirige aos judeus. Quanto às exortações ele conserva intacta a fé tradicional como um depósito imutável. Desta forma, não é provável colocar a data da composição para depois do primeiro século, mas nos últimos anos do primeiro. A carta mostra a expressão da catequese dos judeus cristãos, de que Tiago era mestre e guia, considerado um homem justo.

Quanto ao estilo, a carta mostra um autor que conhece muito bem o grego. A prosa é elegante, o vocabulário rico e variado, sabe empregar palavras raras e apropriadas. Recorre à ironia, multiplica as interrogações para chamar a atenção dos leitores. Se São Tiago tinha uma cultura grega suficiente para escrever uma carta deste género, onde teve a possibilidade de aprender esta língua? Poderia servir-se de um dos seus discípulos de origem grega para o ajudar, ou então, a escreve-la ditando-a o apóstolo que lhe conferiu a forma definitiva.

No Egito, nos primeiros séculos, os cristãos de origem grega eram numerosos, a carta de São Tiago era muito conhecida no século II. As igrejas coptas conheceram-na bem cedo.  O Bispo Clemente de Alexandria, para agradar aos seus fiéis (150-235) escreveu um Comentário, enquanto Orígenes refere que ela era um documento inspirado.

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