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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

9/05/2021 08:00

“Escutai isto, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os pobres em bens deste mundo para serem  ricos na fé e herdeiros do  Reino que prometeu aos que o amam? E, no entanto, vós desprezais o pobre! Ora, não são os ricos os que vos oprimem, os que vos arrastam aos tribunais? (Tg.2, 5-6).

Os destinatários da epistola de São Tiago na sua maioria são pessoas que, segundo o espírito do mundo, são cristãos de modesta condição social, mas ricos na fé no campo sobrenatural, possuem os tesouros revelados pela fé em Jesus que os constituem herdeiros do Reino de Deus. Segundo São Mateus, São Paulo e Apocalipse, os indigentes de bens materiais são mais facilmente ricos  de bens celestes. O desprezo do pobre repugna à consciência cristã que leva São Tiago a exprimir o mesmo pensamento de São Paulo na primeira carta aos Coríntios (1Cor.11,20) sobre a indignação do apóstolo contra o modo de celebrar a ágape antes da eucaristia que “redunda em detrimento dos ricos e não em benefício”. Este tema dos pobres era constante nos profetas Amós, Jeremias, Zacarias e doutrina sapiencial, para denunciar a opressão dos pobres e fracos pelos ricos e governantes injustos.

São Tiago não esquecia as palavras de Jesus, quando no seu grande sermão na colina junto do mar da Galileia, não distante de Cafarnaum, pronunciara as Bem Aventuranças, a primeira das quais se dirige aos pobres e, depois, aos que choram, aos mansos, aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos que promovem a paz, aos que sofrem perseguição por amor da justiça e, termina, pedindo  alegria e júbilo quando sofrerem  por causa de  Jesus, Filho da Virgem de Nazaré. 

Que diferença da pregação dos rabinos e sacerdotes do Templo, Jesus não falou da obrigação de pagar o dízimo nem as primícias, não se referiu, como os fariseus, a maior fidelidade ao sábado. Então o Reino de Deus era outra coisa ?  Era tudo diferente do que Tiago ouvira na sinagoga de Nazaré do que, agora, pregava Jesus e entusiasmava os camponeses pobres e ignorantes das campinas da Galileia.

A Mensagem de Jesus gerava alegria naqueles pobres trabalhadores sem prestígio nem segurança, Deus é Bom até para os ingratos e os maus. Ele compadece-se mesmo dos pagãos, a Sua bondade, curas e perdão estavam a chegar aos que lhe abriam o coração. Jesus até lhes dizia: “Se eu expulso os demónios pela mão de Deus, então o reino de Deus já chegou até vós” (Mt.12,38).

Jesus anunciava a Boa Noticia de Deus a todos os seus ouvintes, ninguém era excluído,

mas dizia, de uma  forma muito clara e  firme, era para os pobres, aqueles que eram humilhados  e esquecidos nas aldeias da Galileia sem se puderem defender dos poderosos  que possuíam os terrenos férteis e os cobradores injustos que levavam os melhores produtos para as cidades ricas de Séforis, Migdal ou Tiberíades. “Felizes vós, pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, os que agora tendes fome, porque sereis saciados, felizes vós, os que agora chorais, porque haveis de rir” (Luc.6,20-21). Jesus, assim como Tiago, sabiam que os pobres não eram todos virtuosos e bons, mas estavam a sofrer injustamente e precisavam de um Pai misericordioso porque não tinham ninguém que os defendesse. Os judeus cristãos, aos quais São Tiago escreve, viviam agora em zonas e cidades abastadas, alguns deles, em breve poderiam viver na abundância e procederem da mesma maneira egoísta como foram tratados na Galileia. O apóstolo exorta:” Não vos torneis juízes com raciocínios criminosos” (Tg. 2,4). O Salmo 146,7, que os judeus recitavam pela manhã, diz: “O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva, mas entrava o caminho aos pecadores”.

O Reino de Deus começava a estar presente nas aldeias e cidades da Galileia, como uma semente que estava a ser lançada à terra, como uma medida de fermento que leveda toda a massa. As palavras” Reino de Deus” foi usada por Jesus num tempo em que o  único reinado era o do César de Roma.  Os pobres, agora, são convidados a entrar num reino que não é o de César, num Reino que significa construir a sua vida e futuro à maneira de Deus, com um estilo de vida diferente, com um grande coração aberto para com os pobres, de maneira a ser semelhante ao Pai celeste que nos manda” amar os nossos inimigos, fazer bem aos que vos odeiam, orar pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt, 5,44). Assim procedeu São Tiago em Jerusalém e, recomenda o mesmo, ao povo daquela terra onde é Padroeiro. São Tiago reconheceu nos pobres a presença de Jesus e tornou-se, por causa do Senhor, também pobre.

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