Ter fé é uma bênção
Estudei dos dois aos quinze anos num colégio católico, portanto desde cedo me ensinaram que fomos criados por Deus. Que nos enviou Jesus, seu filho, para dar a vida para nos salvar. Que Maria, mãe de Jesus, é uma mãe terna e protetora de toda a humanidade.
Mas conforme fui crescendo e pensando naquilo que me diziam, comecei a questionar alguns aspetos que achava não fazerem muito sentido. O Deus do Antigo Testamento é um Deus vingativo, que castiga quem se porta mal. A forma que Deus achou para nos salvar foi enviar o seu filho para sofrer o horror da tortura e humilhação. A Igreja nem sempre vive conforme os valores que apregoa, nem sempre é amor, compreensão e aceitação. Deus ama-nos muito, mas permite que haja tanto sofrimento e tanta injustiça no mundo que criou. Há pessoas genuinamente boas a quem acontecem coisas más.
Vivo quase sempre numa crise de fé. Mas não há problema nenhum nisso, pois a fé deve mesmo ser questionada, para poder ser uma fé esclarecida. Não tem de ser absoluta, nem deve ser cega. Eu acredito, mas tenho sempre um certo receio de poder estar errada. Consigo ir resolvendo o meu problema de fé estabelecendo uma relação direta com Deus. O Deus com quem converso é um Deus de amor, de bondade, carinhoso, de perdão, que nos fez livres de escolher, mas que nos acolhe mesmo quando as escolhas não são as mais acertadas. É um Deus sempre presente, em todos os minutos das nossas vidas. É um Deus que nos enviou Jesus, Deus feito homem, para sentir como qualquer um de nós sente, para ficar ainda mais perto de nós.
Acho que em toda a minha vida perdi a fé apenas por um único momento, no silêncio de uma longa noite de insónia. Aquilo que senti foi assustador. E causou-me pânico. O vazio, o negro, a sensação de nada existir para além de nós, para além desta vida. Não sei como, nem porquê, mas rapidamente voltei a sentir Deus e aquela sensação terrível de abismo abandonou-me. Então compreendi que ter fé é realmente uma bênção.
Quanto a Fátima, não sei se as aparições realmente aconteceram. Há muitas opiniões contraditórias sobre esse assunto, mesmo dentro da própria Igreja Católica. Mas honestamente penso que ter essa certeza não é importante. A única coisa que de facto sei é aquilo que sinto quando lá estou.
Quando vivi no Continente senti muita necessidade de ir várias vezes a Fátima, evitando sempre a confusão das multidões. Nunca lá estive em maio. Para mim, Fátima é silêncio. É paz interior. É a segurança da certeza. É sentir algo de muito forte, intenso, profundo e poderoso por todo o lado. É sentir que algo maior que nós realmente existe.
Em Fátima sente-se Deus. Bem perto, dentro de nós.