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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

2/05/2021 07:00

“Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o confortará, e, se tiver pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg.5.14-15).

O apóstolo São Tiago fala de um costume já bem conhecido da sua comunidade, não uma inovação, mas de um sacramento a conservar no caso de uma doença. Consiste em chamar os presbíteros, não os anciãos da comunidade, para uma oração e uma unção sobre o doente. Não é uma oração qualquer, mas um rito no qual o doente é o objeto, não um rito vulgar, porque é feito em nome do Senhor e acompanhado por uma oração de fé. A salvação que se segue pode ser espiritual ou corporal.  São Tiago não tem intenção de dizer que a cura é imediata, o alívio que se segue é do mesmo género, espiritual ou corporal. A unção, unida à oração é sempre remissão dos pecados e, por vezes, cura corporal.

No Antigo Testamento encontra-se o costume de, no caso de doença, recorrer à oração a pedir a cura do doente (cf. Is. 53,4). Os cristãos sabiam também que Jesus tivera compaixão pelos doentes, escutou até a prece de dois centuriões romanos, um que lhe pediu a cura do seu filho, o outro do seu funcionário (Luc.7,1-10 e Mat.8,5-13).  Além disso, os discípulos tinham obedecido ao mandato do Senhor de orar pelos doentes junto de Deus. Os presbíteros, aos quais São Tiago se refere, são os atuais pastores do povo de Deus. O presbitério cristão não é uma classe honorífica ou um conselho consultivo para a direção de cada uma das igrejas. O Concílio de Trento definiu a qualidade dos ministros do sacramento e pastoral dos doentes.

A carta de São Tiago tem sido muito estudada porque em diversas palavras parece referir-se às práticas do culto cristão da sua época. O culto no Templo de Jerusalém era solene, com muitos sacrifícios de animais durante quase todo o dia, as orações rituais da manhã e tarde muito participadas, a recepção dos peregrinos vindos de todo o império romano muito viva e frutuosa em ofertas e, o Átrio dos Gentios, percorrido por numerosos estrageiros muito curiosos e extasiados com a beleza e grandiosidade do santuário construído por Herodes o Grande.

O culto cristão, para além da participação de alguns atos no Templo, era muito simples, os discípulos e as discípulas reuniam-se nas casas particulares mais amplas dos fiéis, onde se celebravam os santos mistérios da eucaristia, catequeses e preparação para o sacramento do batismo. Acontece que a epístola de São Tiago, na variedade dos temas que trata, respira, por vezes, um vocabulário que sendo novo, ainda não é técnico, mas de grande valor para conhecer como a liturgia do monte Sião, onde residia a família de Jesus com a presença de Maria, se formou e adaptou, tendo já alguns apóstolos e discípulos deixado Jerusalém após a morte de Estevão, obedecendo ao mandato de Jesus:” Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc.16,15).

Um dos exemplos é este, o serviço dos membros da comunidade aos doentes em que os presbíteros ungiam em nome do Senhor e oravam. Noutras partes da carta é a comunidade que ouve a pregação e entoa cânticos que deveriam fazer parte da ação de graças, certas faltas graves parece que foram cometidas durante o culto. Por vezes, o termo “sinagoga”, palavra arcana, servia para designar as reuniões da Igreja, outras vezes o vocabulário “bênção e maldição” estava relacionado com a oração e o culto, assim como a saudação “Ide em paz” que, mais tarde. será atribuída ao diácono. As palavras “Senhor e Paz” deveriam pertencer a uma doxologia usada na liturgia. Segundo alguns estudiosos a carta de São Tiago foi destinada a ser lida na liturgia no decurso de uma celebração cultual. O Padre Boismard, da École Biblique de Jerusalém, dizia que uns certos números de temas usados por São Tiago seriam provenientes de uma liturgia batismal. São Tiago não escapa à influência do judaísmo, longe estamos das longas e dolorosas lutas que hão-de surgir na Igreja por causa do rigor das palavras gregas, nos séculos IV e V que geravam disputas nos mercados, praças públicas e anfiteatros, mesmo entre os fiéis iletrados.

Neste pequeno grupo, reunido à Mãe de Jesus e ao ancião Tiago, tudo era humilde e pobre, minúsculo como um grão de mostarda; na liturgia aprenderam a viver nas inseguranças, mas como Deus quer, como um fermento que havia de transformar aquela sociedade com uma força tão profunda e vital que chegou até aos nossos dias como família de irmãos e irmãs de Jesus Cristo.

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