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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

18/04/2021 07:00

A primeira das sete Epístolas ou cartas católicas do Novo Testamento é atribuída a São Tiago Menor, o Padroeiro da cidade e diocese do Funchal desde o século XV. Os destinatários da carta são judeus cristãos convertidos, geralmente fariseus, como fora São Paulo, dispersos pela Síria, Fenícia, Cilícia e Chipre. A finalidade desse escrito canónico é fortemente moral, semelhante ao Sermão da Montanha pregado por Jesus. A carta apresenta um interesse dogmático sobre a o sacramento da Extrema Unção, interpretado autenticamente pelo Concílio de Trento. A Epístola aproxima-se mais da homilia ou de um sermão, o apóstolo apresenta o ensino de Jesus, não com citações diretas das "Palavras do Senhor", mas com temas idênticos. Este texto de São Tiago foi escrito antes dos textos dos evangelhos canónicos, quando já havia algumas composições escritas para ajudar os anunciadores da doutrina de Jesus. Alguns biblistas opinam que esta carta está relacionada com a liturgia primitiva, mesmo para ser lida nas celebrações do culto cristão, ou então que tem reminiscências da oração celebrada pelas primeiras comunidades cristãs. Todo o conjunto da carta apresenta exortações morais, sem grande relação entre as diversas partes, partindo de um facto particular São Tiago tira uma lição geral, no conjunto apresenta um caráter didático.

Ele ama e gosta de citar a Bíblia, nenhum texto ou carta do Novo Testamento sugere tantas relações com os Salmos e a literatura sapiencial, a origem divina da Palavra de Deus como ele. Refere-se à universalidade do pecado, fragilidade da vida humana e ignorância do que sucederá no dia de amanhã. Verbera os pecados das más línguas, tão frequentes ainda hoje, dá uma imagem negativa dos ricos, dos que tratam mal os trabalhadores e não pagam o justo salário. Nas citações aproxima-se mais dos comentários que circulavam no judaísmo, o que é natural para quem sempre viveu em Jerusalém, frequentador assíduo das orações e sacrifícios do grande Templo, construído por Herodes o Grande, apesar disso com um caráter sempre relacionado com o cristianismo.

Ele dá-nos o modelo de um sábio versado nas coisas de Deus, mas de uma forma original, incisiva e plena de vida, apesar da sua idade. Ele escreve pensando nos judeus convertidos que vivem na diáspora, espalhados por todo o império romano, apresentando traços da catequese do que dizia de viva voz. No conjunto, ele aproxima-se da carta aos Hebreus e da primeira epístola de São João.

A sua linguagem é sóbria, não refere as saudações e nomes de pessoas como São Paulo nas suas cartas, ele prefere aproximar-se mais da tradição sapiencial. A sua maior preferência e simpatia dirige-se para o Sermão da Montanha pronunciado por Jesus e transmitida por São Mateus no Capítulo quinto do seu Evangelho. São Tiago condena as injustiças sociais com o vigor dos antigos profetas, para ele a pobreza tem um valor religioso que torna os pobres os amigos e preferidos de Deus, quanto à riqueza, que tinha conhecido na cidade de Séforis vizinha de Nazaré e Jerusalém, ele julga-a suspeita. No judaísmo, a palavra pobre (anawim), significa piedoso, enquanto rico, por vezes, é sinónimo de ímpio. A ideia corrente era, os inimigos dos pobres são inimigos de Deus. Os Salmos, que os judeus rezavam nas sinagogas, lugar que Tiago sempre frequentou, contribuíram para a formação do apóstolo da família de Jesus, agora, esta doutrina era cristãmente vivificada pela beleza e novidade do Sermão da Montanha.

Quanto à fé e as obras, outrora cavalo de batalha entre a doutrina de São Paulo e São Tiago, a crítica moderna acentua que são questões diferentes, porque ambos os apóstolos usam o mesmo vocabulário e as preocupações são de outra ordem.

Os que querem atribuir a São Tiago ou a São Paulo uma intenção polémica devem supor que São Tiago não se opõe diretamente a São Paulo, mas aos cristãos que teriam professado um "paulinismo" desfigurado e abusivo.

Esta carta deve ser lida e meditada na diocese, no quinto centenário do nosso protetor, o "Justo Bispo de Jerusalém".

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