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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

14/03/2021 08:00

Grande número das pessoas que ouviam e seguiam Jesus eram mulheres que, numa sociedade patriarcal, significava um estado de inferioridade e submissão aos homens.

Durante a vida de Jesus, desde pequenino, ele pode ver em sua própria casa e na sua própria mãe que os seus deveres eram sempre os mesmos, moer o trigo, cozer o pão, cozinhar, tecer, embora a sua influência fosse elevada dentro da família e na presidência da oração no sábado em casa, ela, como as outras mães cuidavam do clima familiar e religioso. Fora do lar a mulher não podia afastar-se de casa sozinha, mas acompanhada do marido, não tinha lugar na vida social. Na vida religiosa, sempre controlada pelos homens, ela vivia numa condição de inferioridade, não era obrigada a participar nas peregrinações nas grandes festas a Jerusalém pela Páscoa, Pentecostes ou Tabernáculos.

Pelos evangelhos sabemos que Maria e, provavelmente, suas primas e cunhadas, frequentavam o Templo e, após a ressurreição, participavam nas reuniões na cidade alta, no monte Sião. Os escribas não aceitavam as mulheres como discípulas, nem os rabinos as levavam consigo, formavam uma classe à margem na sociedade hebraica.

Declarava um Rabino: "Compra-se a mulher por dinheiro, contrato e relações sexuais. Compra-se o escravo pagão por dinheiro, contrato e toma de posse. Existe alguma diferença entre a aquisição de uma mulher e a do escravo? Não". O rabino Yehuda aconselhava os homens a recitarem todos os dias esta oração: "Bendito sejais, Senhor, porque não me criastes pagão, nem me fizestes mulher, nem ignorante".

O lugar da mulher era em casa, ocupando-se com as crianças e as tarefas domésticas, fiando a lã, na Judeia, ou o linho na Galileia. Contudo há indícios que nos fazem suspeitar que nas pequenas aldeias da Galileia os costumes eram menos rigorosos do que nos dizem os textos rabínicos. Parece que o antifeminismo aumentou durante o século II no judaísmo e no cristianismo. O escritor judeu Filão de Alexandria escreveu que "enquanto o homem se guia pela razão a mulher é pela sensualidade que se deixava levar." A mulher judia tinha o direito a um mínimo para viver, o marido estava obrigado a dar-lhe o necessário em alimentação, roupas e dinheiro de bolso, de contrário podia apresentar queixa diante de um tribunal, que obrigará o marido ao divórcio.

A atitude de Jesus perante a mulher foi completamente diferente, as mulheres que vinham ter com Ele eram sempre diversas, muitas delas eram doentes curadas por Jesus, talvez viúvas indefesas ou repudiadas pelos maridos, mulheres solitárias, e até de fama duvidosa. A presença destas mulheres, mesmo familiares, era escandalosa para os fariseus. Jesus nunca pactuou por questões de sexo ou pureza ritual, tinha grandes mulheres que o serviam na sua missão como Maria Madalena, as irmãs Marta e Maria de Betânia, junto a Jerusalém, seguidoras fiéis como Salomé e Maria, mulher de Alfeu e mãe de Tiago, o Menor, e outras que o acompanharam e nunca o abandonaram, mesmo na hora da sua crucifixão e morte, foram ao sepulcro para ungir o seu corpo, no domingo da ressurreição. Neste momento doloroso não foram os homens seus familiares, exceto João filho de Zebedeu, que estava presente. Pedro, chorava por ter negado o Mestre, Tiago, o Maior como o Menor, este, um dos doze chamado por Jesus, estavam ausentes, escondidos, cheios de medo, esperando ser presos ou condenados; as mulheres suas mães tinham frascos de mirra nas mãos para ungir o corpo do Senhor que tinha ressuscitado, as mulheres não abandonam o Mestre. Foram elas que comunicaram aos apóstolos a novidade pascal, o Senhor tinha ressuscitado. O que Jesus pediu às mulheres que o seguiam como discípulas, era um apoio constante e eficiente para garantir alimentação, alojamento, organização e condições mínimas para a sua pregação itinerante, agora, após a ressurreição são apóstolas dos apóstolos!

A presença de mulheres nas refeições de Jesus dava escândalo, a não ser que fossem acompanhadas pelo seu esposo. Os cobradores de impostos, como Levi e Zaqueu, tinham fama de viver com o mundo das prostitutas, Jesus não as repelia nem as condenava, acolhia-as, perdoava e dizia para não pecarem mais. Os adversários de Jesus diziam que Ele era "amigo das pecadoras". Jesus desafiou-os por vezes dizendo: "Em verdade vos digo: os cobradores de impostos e as meretrizes vão preceder-vos no Reino de Deus". (Mt.21,31).

Jesus não acabou com os costumes patriarcais da sua sociedade, mas introduziu bases novas, ensinando e mostrando que todas as pessoas, mulheres e homens, foram criados e amados por Deus e gozam de igual dignidade.

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