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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

7/02/2021 07:01

Tiago, filho de Alfeu e de Maria, nasceu num povo e numa família que sabia rezar. Em Israel não se conhecia a crise religiosa dos povos que o rodeavam. Os pagãos rezavam aos seus deuses para lhes arrancarem favores e benefícios, mas se o não conseguissem duvidavam deles, chegando a ameaça-los, desprezavam-nos e escolhiam outros, aos quais pagavam os seus tributos e ofertas, ou então recorriam a ritos mágicos. O ambiente em Israel era muito diferente. O escritor Flávio Josefo, nas Antiguidades Judaicas escreve: "Duas vezes ao dia, ao amanhecer e ao anoitecer, era necessário recordar, em atitude de ação de graças diante de Deus, o que Deus tinha feito desde a saída Egito". No tempo de Jesus a oração da manhã e da noite era praticada tanto na Palestina como nos países estrangeiros para onde os judeus tinham emigrado.

A Oração da manhã como a da noite começava sempre pela recitação da Shemá, uma profissão de fé: "Escuta Israel! o Senhor nosso Deus é único. Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho estarão no teu coração" (Dt. 6,4-9). A Shema era continuada por una oração constituída por dezoito bênçãos chamada Shemoné Esré, pronunciada sempre de pé. As práticas religiosas eram vividas nas casas dos judeus piedosos, com a recitação de orações, ensino, purificações rituais, observância das leis alimentares, jejuns, luas novas e festas. Estas práticas religiosas completavam-se nas sinagogas, a sala comum de oração, com leituras do Antigo Testamento, estudo, discussão, interpretação da Lei (Torah) e dos profetas. Uma das orações principais nas sinagogas era o pedido a Deus para a vinda do Messias. O grupo dos judeus piedosos "os anawim" ou pobres, que tudo esperavam de Deus e não das forças ou sabedoria humana, embora suspirassem por uma liberdade política e social, da parte do império romano, confiavam plenamente em Deus. Em Israel, Deus era uma realidade omnipresente, Ele habitava no meio do seu povo onde tinha o seu Templo em Jerusalém. No ambiente judaico dessa época, a mulher não tinha uma grande missão a exercer em público, mas gozava de uma grande influência no ambiente da família e educação dos filhos. A fé tinha as suas raízes na fé de Abraão.

A sinagoga de Nazaré era pequena, deveria levar cerca de 100 pessoas, normalmente um rabino presidia à oração. Na sua falta, um homem, visto ser membro dum povo sacerdotal, alguém como um dos nossos catequistas atuais, que conheciam a Lei e a tradição, sendo capazes de explicar melhor um texto sagrado, presidiam à oração e explicação do texto lido. O grande dia dedicado a Deus era o Sábado, o Shabat. Durante 24 horas a comunidade de Nazaré mudava por completo de serviço, como ainda acontece hoje entre as comunidades judias tanto em Israel como na Diáspora. Antes do sábado preparavam-se as três refeições porque neste dia não se acendia o fogo, somente as lâmpadas de azeite que permaneciam acesas até ao amanhecer do dia após o sábado. Os homens vestiam as roupas de festa, preparavam o "talit" ou véu de oração, começava o tempo sagrado, porque este povo fazia parte de uma nação consagrada a Deus.

O jovem Tiago e seu irmão Judas, como o primo de Jesus, eram exemplares na oração e observância da Lei (Torah) de Moisés. Os familiares mais próximos de Jesus não se uniram ao grupo dos nazarenos que se recusaram recebe-lo e, até, procuraram precipitá-lo da colina junto a Nazaré. Até as suas mães, que seguiram Jesus, ao menos durante certo tempo da sua pregação, estiveram presentes com Maria, Mãe de Jesus no Calvário, tendo após a Ressurreição do Senhor ido ao sepulcro e ouvido dos anjos: "Ele não está aqui, ressuscitou", foram dize-lo aos apóstolos. Escreve São Lucas que elas eram "Maria Madalena, Joana, Maria, mãe de Tiago e as outras que estavam com elas" (Lc. 24,1). Alguns familiares de Jesus já se reuniam com outros discípulos na parte alta da cidade santa, no monte Sião, onde celebravam a eucaristia nas casas particulares, continuando a frequentar o Templo para as orações da manhã e da tarde. Entre os membros dos "Doze" que se reuniam no monte Sião, encontrava-se já Tiago filho de Alfeu que, com Pedro e Tiago filho de Zebedeu formavam, como escreve São Paulo. "as colunas da Igreja". Tiago, filho de Alfeu, nunca saiu da cidade santa nem deixou a oração no Templo, era o bispo de Jerusalém. Embora cristão, frequentava o Templo todos os dias, era respeitado e venerado pela sua piedade e prudência. A oração de Tiago era confiança absoluta em Deus, na carta que a tradição lhe atribui, a Bíblia tem uma missão capital, com um caráter claramente didático, em relação com os Salmos e literatura sapiencial.

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