A audaz Hellé-Nice: do Cabaret às pistas
Existirá algo mais inflamável que uma elegante e charmosa mulher, com um potente Alfa Romeo? Destemida, a competir com os pilotos Tazio Nuvolari e Louis Chiron ou Jean-Pierre Wimille, considerados os "ases do volante" nos excitantes anos 30? Pode até existir, mas não deixa de ser um cocktail, deliciosamente explosivo!
Várias e talentosas mulheres piloto, adocicaram a história da marca do Quadrifoglio verde. Mas a Mariette Helene Delangle, imortalizada "Hellé-Nice" será, na minha opinião, uma das mais cativantes mulheres piloto, dessa época de ouro. Com multidões de admiradores nas pistas, onde espalhou o seu perfume inebriante.
Esta modelo francesa ganha fama e fortuna, entre 1916 e 1926 como bailarina nos movimentados cabaret parisienses. Magistral estratega tanto no jogo da sedução como no ski – onde tem um acidente – que a leva à vertigem da velocidade automóvel. Entre o odor a gasolina e o glamour do fox-trot na luxúria dos seus amores, conhece Ettore e Jean Bugatti. Daí, nasce ao volante de um Bugatti T35C uma reconhecida sportswomen recordista na velocidade na Europa e no continente americano. Cresce com o seu Alfa Romeo 8C 2300 Monza - pintado em dois tons de azzuro com o qual participa nos Grand Prix - e que a torna numa heroína mundial, na afirmação feminina.
Em 1936, volta ao palco no GP do Rio de Janeiro - "Circuito da Gávea"- alcunhado por "trampolim do diabo" - lado a lado com os pilotos Carlo Pintacuda e Atílio Marinoni – da Scuderia Ferrari e os lusos Henrique Lehrfeld e Almeida Araújo, ambos em Bugatti. Meses depois, no I Grande Prémio da Cidade de São Paulo, ocorre o maior acidente da história do automobilismo do Brasil. Ela é a infeliz protagonista. O seu Alfa Romeo catapulta-a à velocidade de 160 km/h, ao embater num fardo de palha solto – existindo testemunhos com o volante local Manuel de Teffé com o causador, impedindo a ultrapassagem numa manobra em curva - Ela é salva ao cair, amparada, sobre um soldado que se torna num dos 6 mortos e 35 feridos entre os espectadores – O despoletar da construção do autódromo de Interlagos.
O Alfa Romeo destruído é reconstruído pelo piloto brasileiro Benedicto Lopes, com o auxílio de entusiastas e da própria Hellé-Nice. Que envia peças originais desde a Europa. Em 1937, convidado por pilotos portugueses, participa com o mesmo no "VI Grande Prémio internacional de Vila Real" e no "III Prémio do Estoril". Pisando solo português, o veterano e marcante Alfa Romeo da Rainha das Pistas dos anos 30.
Hellé-Nice, em 1949 quando tenta correr no "Rali de Monte Carlo" é acusada – sem prova desse facto - de colaboradora da Gestapo, na França ocupada durante a II Guerra, pelo piloto e rival Louis Chiron. Cai no desprezo e completo esquecimento de todos. Morre em 1984, aos 84 anos, na miséria. Em 2010, é constituída por mulheres norte-americanas, amantes do desporto automóvel a "Fundação Hellé-Nice".
Finalmente Hellé-Nice, ultrapassa a sua justa bandeira xadrez!