Miss Zita Garton

Toca o telefone na Agência de Transportes Aéreos da Madeira, a filial da empresa britânica Aquila Airways - no nº 33 da Rua da Alfândega, Funchal – Alguém do outro lado da linha informa, que Sir Winston Churchill interrompeu as suas férias, no Hotel Reid's Palace, de forma inesperada, pelas notícias recebidas de Londres, sobre as eleições para o novo primeiro-ministro britânico. Tinha que partir da Madeira e, da forma mais célere! Um elegante Hidroavião Short Sunderland S45 Solent da Aquila Airways, com uma enorme Union Jack estampada na cauda, amarou na baía da Cidade do Funchal, dominando as vagas daquele mar do dia 12 de Janeiro de 1950. Cecil Garton era um dos seus pilotos, membro de uma família madeirense com origem em Leopold Garton, um cidadão Inglês - que no passado colaborou, no ligar a Madeira ao mundo, com os cabos submarinos no Atlântico - colocados a partir de 1873 – pela Eastern Telegraph Company. Cria raízes, apaixonado pela Ilha e pela madeirense Carolina Passos de Freitas.

Como em tantas ocasiões, a menina ruiva Zita Garton, cúmplice com o seu irmão Mark no banco traseiro do Nash descapotável paterno - estacionado sobre o molhe do porto funchalense - assistia entusiasmada, à aproximação e amaragem dos prateados Flying Boats, da empresa fundada pelo veterano Comandante da Royal Air Force : Barry T. Aikman - colega de armas na R.A.F. do seu tio Cecil, no decorrer da II Guerra Mundial e à qual, a sua família permitiu surgir em 1949, da primeira ligação aérea regular de passageiros e carga, entre a cidade inglesa de Southampton e o Funchal – com escala em Cabo Ruivo, em Lisboa. Semelhante cenário àquele da partida, no hidroavião do grande estadista da terra de Sua Majestade - que pintou as suas aguarelas na Vila de Câmara de Lobos sob o perfume do seu inseparável charuto e que tanto a impressionou, pelo seu carácter determinado.

A cativante Miss Zita Garton nasceu no dia 8 de Agosto de 1940, no Funchal. Filha de Maria Amélia e Roland Garton, que entre outras actividades, estava ligado à gestão do Hotel Miramar, onde durante vários anos, realizaram as cerimónias de entrega de prémios, das provas organizadas pelo "Clube 100 à Hora". Influenciada pela participação do seu pai nas "Volta à Ilha" desde a "I Volta" em 1959, onde concorreu com o número um de porta no seu Fraser-Nash. Partilhava com ele a paixão pelos automóveis, ao ponto de um dia, surgir em casa com um carro comprado para surpresa do seu Pai...

Aventureira e audaz ao volante, com gosto pela velocidade e a dança do conta-rotações. Decide com 23 anos - em 1963, participar em provas com um MG B . Incluindo o VIII Rallye Isla de Gran Canaria – II Internacional, nos dias 16 e 17 de Fevereiro, integrada na comitiva de 13 madeirenses e acompanhada pela sua frequente cronometrista: Margarida Mendes Pereira. Azaradas, terminam a prova com uma violenta saída de estrada – Não sendo ela capitão-aviador como o seu tio Cecil dos hidroaviões - o MG voa por 18 metros!! - A palavra medo é desconhecida desta equipa feminina! Prova inequívoca, são as palavras em pleno voo da Guida: - "Não te preocupes Zita, isto é baixinho! "Saem ensanguentadas mas ilesas de algo grave! Ganha destaque nos jornais espanhóis:" Una preciosa pelirroja que cautivó por su simpatía..."! Meses mais tarde, recuperadas, participam na "V Volta à Ilha".

A elegante Zita Garton, em 1965, compra um atraente Alfa Romeo Giulietta Spider, azul celeste. O "HH-60-23", exposto no agente "Fernando Ornelas Cunha". Participa com espírito determinado - vencendo o "prémio Senhoras" - na "VII Volta à Ilha" (#11). Passados 50 anos - faltavam dois dias para o seu 75º aniversário (2015) - numa agradável tarde de agosto confidencia-me: - "Tenho saudades desse tempo. Eu conduzia descalça, para sentir os pedais e efectuando as mudanças de caixa com ouvido apurado, a cada curva ou subida. Uma emoção". Surpreendida ficou, quando referi que seria a única mulher a correr com uma Giulietta Spider, na época, em todo o país. Ao que rematou: "nós madeirenses sempre fomos pioneiros em muita coisa, não me admira portanto, que fosse a única!". Parafraseava pelo olhar, o estadista que a eterna Miss Garton admira: "Não há delito maior, do que a audácia de se destacar". E, imagino que Sir Winston Churchill teria pronta resposta: – "Very good indeed, Miss Zita Garton!".