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O prostremo presidente branco da África do Sul, Frederick William de Klerk

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Data de publicação
26 Novembro 2021
16:17

Frederick William de Klerk, 58 anos, foi ajuramentado Presidente da República da África do Sul em 20 de setembro de 1989, função que exerceu até 10 de maio de 1994, dia em que no Union Buildings, Pretória, perante uma multidão de cerca de 20.000 pessoas e próximo de uma centena de chefes de estado e chefes de governo, com a compostura de um verdadeiro estadista, entregou o poder a Nelson Mandela o qual foi por ele libertado em 1990.

F W de Klerk, foi o último presidente branco da era do "apartheid" na África do Sul e foi também líder do Partido Nacional (NP sigla em inglês) desde fevereiro de 1989 a setembro de 1997, sucedendo a Pieter William Botha, conhecido como o " Grande Crocodilo" cuja governação durante 11 turbulentos anos, arrastou o país para o abismo da estagnação e próximo de uma guerra civil. Volvidos quatro meses após a sua tomada de posse como presidente, F W de Klerk, rapidamente tomou uma série de medidas, talvez, as mais arrojadas de sempre da história política da África do Sul, não sendo difícil vislumbrar tratar-se da organização e preparação para libertar a África do Sul do seu passado. Ao iniciar as suas funções como o mais alto magistrado da nação, de Klerk, sabia muito bem que era premente restituir à liberdade os líderes que se encontravam encarcerados nas cadeias do país, fazer regressar o expressivo número de exilados e por termo à crescente violência que se fazia sentir nas cidades e bairros negros. Pode-se afirmar sem pejo que de Klerk devido à sua maneira de agir, seguro, confiante ao longo dos anos era também uma pessoa que sempre evidenciou desapreço por pompa e circunstância. Era um homem que se pautava pela prudência e não agia impulsivamente. Tinha a noção plena do que era premente fazer pelo país como comprovou em 2 de fevereiro de 1990 não vacilando em fazer aquilo que em consciência julgava estar certo e que eram realmente as exigências da situação no país que isso demandavam. Conservou a serenidade, manteve-se positivo apesar dos expetáveis acontecimentos negativos que se desenvolviam reiteradamente em seu redor. Muito dificilmente escapou à sua imagem de conservadorismo e à perceção de que era excessivamente cauteloso com propensão de fazer tudo para todos e com todos, conseguiu mostrar o contrário desde que foi empossado presidente verificando-se uma transformação para personalidade mediática que foi insigne, atribuindo-lhe assim uma nova identidade pública, a de uma personalidade confiante, calma e aberta. Pelo andar das coisas, sempre difíceis, logrou uma associação com líderes mundiais e o impacto dos seus argumentos, contribuiu, para elevar a sua estatura, tendo, simultaneamente provado a si próprio ser um construtor de pontes para com os seus oponentes políticos negros, os quais, jamais questionaram a sua integridade. De Klerk, tentou unir um país e duas nações, pugnando pela reforma de um sistema que herdou em 1989 batalhando consciente e incansavelmente para palmilhar a rota para a paz. Plenamente cônscio de que se em 1994 não cedesse o poder, a África do Sul, poderia muito bem estar hoje transformada numa Síria ou num Iraque ou pior, muito devido também às tensões raciais, que alguns teimavam em manter e ele contra isso e com vontade férrea travou uma luta para tudo ultrapassar e por isso mesmo em 1993, juntamente com Nelson Mandela foi recipiente do Prémio Nobel da Paz por desemparedar tudo o que obstaculizava o percurso para incoação da democracia em 1994 onde todos os diferentes grupos raciais pudessem coabitar e viver em harmonia. F W de Klerk fechou intimoratamente o velho capítulo racial e uma nova era, inclusiva, chegava trazendo a oferta de oportunidades idênticas para todos o que constituiu motivo de excitamento, de júbilo e sobretudo um farol de esperança. Com as primeiras eleições democráticas em 27 de abril de 1994 e a subida ao poder de Nelson Mandela o facto deste o ter nomeado seu vice-presidente revela a estima e o apreço pelo trabalho realizado por de Klerk , mas sobretudo pela coragem e os fortes princípios morais.

A transmissão em vídeo da sua derradeira mensagem à nação sul africana após a sua morte ocorrida em 11 de novembro, mostra claramente que o vice-presidente no governo de Nelson Mandela desejou executar as suas funções de maneira mais ampla e em controlar a narrativa do seu legado o que não ajudou muito pelo simples facto de ter escolhido um discurso gravado no leito da sua morte, para ser transmitido posteriormente ao seu óbito, no qual pede de forma generalizada desculpas a todas as vítimas do "apartheid" quando perdeu a oportunidade que lhe foi dada de o fazer pelo Partido Nacional (NP) na Comissão da Verdade e Reconciliação (TBC sigla em inglês) para fazê-lo de forma genuína pedindo desculpa pelo "apartheid" e suas atrocidades. Perdeu uma oportunidade única, manteve sempre a sua ideia de não conceber que o "apartheid" foi um crime contra a humanidade. Alguns sentem que o ex-presidente da África do Sul, um afrikânder, como eles os desprezou e vendeu o país que consideravam ser deles por terem nascido em solo sul africano. Não é muito comum que as mortes de figuras políticas causem reações fortes através do espetro político com as formações de extrema-direita catalogando-o de um "sellout" e reputando-o incessantemente de traidor à causa da supremacia branca e do nacionalismo como também pelo facto de ter iniciado e conduzido o processo que pôs fim ao " apartheid", enquanto do lado oposto, políticos esquerdistas, negacionistas de realidades, de forma anojosa celebraram o seu passamento. Se de Klerk, tivesse apresentado desculpas em vida algo que requeria muita coragem da sua parte, tinha assegurado com certeza de que não necessitava de experimentar para salvar o seu legado e a sua reputação com um vídeo originado no leito onde ocorreu do seu óbito.

F W de Klerk, último presidente branco da África do Sul, sucumbiu atormentado com muitas dores físicas devido a padecimento de doença grave do foro oncológico a que a morte pôs remate. A nação, através do governo manifestou-se com quatro dias de luto decretados pelo presidente da república. Familiares recusaram um funeral de estado e optaram por exéquias fúnebres privadas, no fim das quais apenas dois automóveis um deles com o féretro fúnebre e um outro com Elita Georgides sua mulher que foi, partiram em direção à morada derradeira onde repousam agora as suas cinzas em Durbansville Memorial Park, como também os fracassos, sucessos, recriminações, incertezas, horrores, crimes, possivelmente remorsos e o fervor patriótico que sempre manifestou.

José Luís da Silva, Correspondente em Joanesburgo ( África do Sul )

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