MADEIRA Meteorologia

Diáspora quer Portugal mais atento e representativo

JM-Madeira

JM-Madeira

Data de publicação
10 Junho 2021
10:39

No dia em que se comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o JM deu ‘palco’ e voz à diáspora que “tenta preservar” as tradições lusas além-fronteiras e que reivindica maior representatividade e atenção do território luso.Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Dia sentido de forma bastante calorosa pelos cerca de 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo fora – desses, cerca de 1 milhão e 300 mil são naturais ou descendentes de madeirenses.

Para dar voz a esses madeirenses além-fronteiras, o JM foi ao encontro de alguns deles, ofereceu ‘palco’ e deu voz à diáspora, num dia também relativo às Comunidades Portuguesas.

Isilda de Freitas é uma madeirense em Jersey, ilha britânica do Canal da Mancha, onde residem entre 10 a 15.000 madeirenses.

A madeirense começou por descrever a realidade de quem se aventura em terras desconhecidas. “Os emigrantes não são todos iguais! Nem todos têm as mesmas experiências de emigração, nem todos têm as mesmas oportunidades de trabalho e educacionais, nem todos têm boas capacidades de adaptação e integração, nem todos conseguem aprender a língua dos países para onde vão, nem todos têm orgulho das suas raízes e nem todos têm o sonho de regressar à sua terra natal”, descreveu inicialmente.

Orgulhosos da sua terra

A emigrante madeirense descreveu a face de emigrantes orgulhosos da sua terra natal e que “tentam preservar as tradições e organizar eventos que permitam celebrar dias especiais”.

“E que dia mais especial do que o Dia de Portugal? Infelizmente, em alguns lugares como Jersey, já aqui ao lado, os ‘representantes’ no nosso país, não representam o verdadeiro emigrante”, lamenta.

Isilda de Freitas aproveitou também para criticar comemorações às quais “só comparecem um número limitado de pessoas escolhidas a dedo”.

“O mesmo se aplica aquando de visitas oficiais de membros do Governo ou órgãos oficiais. É por isso que, nessas visitas nunca existem críticas acerca do funcionamento dos consulados, criticas acerca de como os Conselheiros não apresentam as verdadeiras necessidades dos emigrantes, porque os amigos ‘dão palmadinhas nas costas’ uns dos outros e só querem ficar muito bem na fotografia em Portugal. E acreditem, alguns gostam de estar em todas as fotografias”, exclamou.

A emigrante madeirense foi mais longe e aproveitou o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, para “após um ano horrível para todos, incluindo os emigrantes que estão afastados da família há tanto tempo ou perderam os seus trabalhos”, pedir “ao Governo Madeirense e Português que começasse a olhar para as Comunidades espalhadas pelo mundo com olhos de ver”.

Isilda de Freitas pede mais atenção e sensibilidade para com todos os emigrantes.

“Porque nem sempre está tudo bem com os emigrantes. Porque nem sempre os seus problemas importam para os nossos representantes. Quando forem em viagens oficiais à Comunidade, não vão em visitas relâmpago a jantares com os emigrantes ‘importantes’. Vão uma semana, peçam para falar com trabalhadores de fazendas, de lojas, de supermercados, de restaurantes, de lares de idosos, com empregados de limpeza e sim, aí ficarão a conhecer os reais problemas dos emigrantes”, constatou.

A concluir, a madeirense deixa uma frase contundente.

“Não podemos ser apenas uma fonte de dinheiro para injetar na nossa terra. Somos pessoas com sentimentos, com família e seremos sempre portugueses! Viva Portugal! Viva a Madeira!”, remata.

Ainda na Europa mas no centro da mesma, José António Gonçalves, conselheiro das Comunidades Madeirenses na Bélgica foi também ouvido pelo JM.

O madeirense começou por saudar a escolha da Madeira como centro das cerimónias desta importante data, não deixando um recado ao Governo da República.

“Já que o Presidente de todos os portugueses escolheu - e muito bem - a Madeira para as celebrações, deste ano de esperança que é o 2021, faço votos de que a impressão que, por vezes, tenho de que a Região Autónoma da Madeira, a sua Diáspora e os seus órgãos de governo próprios não são tratados por alguns governantes da República (felizmente há honrosas exceções...) com a dignidade e o respeito que o seu povo e o seu estatuto constitucional e no quadro da União Europeia lhe merecem e justificam, desapareça”, acredita.

Diálogo construtivo

José António Gonçalves reforça a mensagem e espera que no seguimento das Comemorações deste dia na Madeira, seja dado lugar “a um clima salutar onde o diálogo construtivo, ação e vontade política seja uma realidade em prol de Portugal no seu todo, quer continental como insular”.

“Portugal agradece”, exclama.

A terminar a mensagem, o conselheiro relembra que “somos mais de 15 milhões de portugueses no Mundo dos quais 1 milhão e 300 mil madeirenses”.

“Não tenhamos dúvidas de que todos somos importantes para ajudar a fazer um Portugal melhor para todos nós mas também, e sobretudo, para as nossas gerações vindouras”.

“Feliz Dia de Portugal e de Camões. Desejo a todos os portugueses espalhados pelo mundo saúde, felicidade e muito sucesso pessoal e profissional”, concluiu.

Mudando de continente e chegando a África, mais precisamente à África do Sul, auscultámos José Nascimento, também ele conselheiro da diáspora madeirense espalhada pelo mundo.

“O conceito de Portugal está a mudar da perspetiva e compreensão tradicional. Portugal já não é só o território retangular e as ilhas. Portugal também engloba a área marítima de zona económica exclusiva de todas as ilhas portuguesas nomeadamente Açores e Madeira tornando Portugal muito maior e mais imponente”, considerou. Para José Nascimento, o país está “onde estiver ou português e onde se falar a Língua de Camões”.

5 milhões pelo mundo

“Portugal é, portanto, constituído por 15 milhões de portugueses e não 11 milhões como disse outrora um Presidente Português”, disse o conselheiro referindo-se aos cerca de 5 milhões de portugueses espalhados pelo mundo.

José Nascimento considera que “juntos e melhor representados, ganha a representatividade, ganha a democracia e ganha, consequentemente, Portugal”.

O conselheiro conclui com uma mensagem de unidade e esperança.

“Unidos seremos muitos e mais fortes. Viva Portugal”.

Mudando novamente de continente e ‘aterrando’ em terras de Vera Cruz, a conselheira das Comunidades Madeirenses em São Paulo, Brasil, exteriorizou “a gratidão de toda a comunidade madeirense no Brasil por toda a coragem, força, valores e exemplos herdados da origem lusitana”.

Maria Sardinha aproveitou também para congratular “todas as iniciativas que permitem aproximar Portugal às nações que receberem a sua emigração”.

“Desejar, assim, que se mantenha e amplie esta aproximação com o Brasil através de protocolos governamentais, institucionais e académicos, no sentido de reforçar essa ligação (Portugal-Ilha da Madeira-Brasil) ao longo da nossa história comum”, futura.

A conselheira diz que o Brasil tem sofrido constantemente uma revisão da história e considera que nesse sentido, “Portugal mereceria um destaque que revelasse os contributos positivos nessas interações, revelando para toda a Diáspora o Grande Portugal que conhecemos e sentimos”, concluiu.

Conquistas não são valorizadas 

Isilda de Freitas sentiu-se pessoalmente integrada, teve oportunidades na ilha que a acolheu [Jersey], mas lamenta que tais conhecimentos “não sejam reconhecidos na Madeira”.

“Não sei porquê. Mandamos jovens estudar para fora e, quando emigrantes regressam com conquistas, não são valorizadas. Uma vida de oportunidades que depois se perdem no regresso a casa e nos fazem ter de recomeçar do zero”, lamentou.

E por falar em oportunidades educacionais, a madeirense falou um pouco sobre a Língua de Camões e o seu ensino.

“Em Jersey, existem professores de língua portuguesa que mal conhecemos porque se limitam a fazer as suas horas de trabalho, às vezes em más condições, e depois fazem os seus part-times nos tempos livres, para ganharem mais uns trocados. Quando emigrei, os professores na altura eram bastante ativos em promover a nossa cultura, organizando exposições que podiam ser vistas por toda a ilha, que nos orgulhava de ser quem somos. Agora nada e, se o fazem, é pela calada”, denunciou.

Por Marco António Sousa

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o seu grau de satisfação com a liberdade que o 25 de Abril trouxe para os madeirenses?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas